Este princípio que colhi dos estudos, leituras e ensinamentos na minha formação em medicina e na minha vida de médico, mantem-se, apesar de todos os progressos, perfeitamente atual.
Não é somente na medicina que estes problemas, de ir contra a natureza se levantam, embora nesta área, em que muitas vezes está em causa a vida humana, assumam outras proporções. Mesmo no exercício prático da medicina o bom médico procura sempre respeitar a anatomia normal e a regular função (fisiologia) do organismo.
O filósofo alemão Hans-Georg Gadamer chama a atenção para isso mesmo, salientando a propósito da arte médica que: “A arte de curar tem a ver mais com o restabelecimento de algo natural do que com a arte de produzir algo artificial”. É claro que hoje em dia o progresso da tecnologia, as modas da vida moderna, o consumo e o preço, entre outros, empurram-nos para o artificial como por exemplo na alimentação, por ser mais fácil, mais rápido e mais barato. É aquilo que se conhece como “fast-food”, “junk-food”, comida de plástico, comida lixo, etc. Apesar deste tipo de alimentação ter hoje muitos adeptos, creio que ninguém tem dúvidas de que os alimentos naturais são melhores e mais saudáveis (peixe de mar, carne doméstica, etc.), assim como as matérias primas para o vestuário, para as casas, etc… A natureza dá-nos vida e saúde e por isso Schiller afirmava “Nada leva ao bem se não for natural”.
As doenças e muitas das catástrofes que nos assolam são o produto de erros humanos que contrariam a natureza. Também nas relações humanas, nos comportamentos, nos hábitos, etc. fomos educados segundo regras naturais, seguindo e respeitando a natureza em que estamos inseridos. É o que nos diz o célebre princípio de Ortega y Gasset “Nós somos nós e a nossa circunstância”. Mas, a evolução das sociedades e das democracias, se por um lado trouxe mais liberdade e mais igualdade de direitos e oportunidades aos cidadãos, como no caso das mulheres, por outro lado colocou novas questões que, embora com dificuldade se têm tentado resolver.
É indiscutível que tem havido progressos evidentes no combate ao racismo e à xenofobia e na aceitação e compreensão da homossexualidade. Claro que continua a haver comportamentos desrespeitosos e agressivos para com minorias e marginalizados, mas o caminho faz-se caminhando e no domínio das relações humanas é preciso ter sempre presente que: “A liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade do outro”.
Há, contudo, atitudes e comportamentos que não entendo, como é o caso do processo escolhido por Cristiano Ronaldo (CR) para ser pai. O que levará CR, uma estrela mundial, jovem, bem parecido, atraente, etc., que já teve várias namoradas, a “encomendar” filhos, clandestinamente, através do envio do seu esperma para os Estados Unidos, para inseminação artificial, gerando seres “sem” mãe?
Isto não é natural, não é normal! Dir-me-ão que isso será um problema dele e que ele faz o que entender. A questão é mesmo essa, é que desde que existem crianças sem mãe o problema não é só dele e passa a ser também dos filhos.
No futuro, quando os filhos perguntarem pela mãe (biológica) o que lhes responderá? Não poderá dizer-lhes que são órfãos de mãe. A única resposta verdadeira que CR poderá dar aos filhos será: “Eu comprei-vos à vossa mãe”.
Será que CR já pensou que se o seu pai tivesse feito o mesmo a sua mãe Dolores não existia?
A base da família principal célula da sociedade é a que vemos no presépio: o Pai, a Mãe e o Menino. É esta família, sólida, unida pelo amor e vivendo num mundo de afetos que devemos procurar constituir porque não há dinheiro que a pague. O mundo do dinheiro é mau conselheiro e por si só não faz a felicidade de ninguém.
A natureza conserva a chave para a nossa satisfação estética, intelectual, cognitiva e mesmo espiritual (E. O. Wilson).