O presidente da Associação Romaria de Nª Srª da Piedade é um exemplo dessa devoção, quando em criança lhe foi diagnosticado um tumor no tórax. Os médicos deram-lhe poucas hipóteses de sobreviver, como conta à VTM. “Quando tinha três anos tive um problema de saúde grave, em que estive quatro meses internado no hospital de São João, no Porto. Os médicos disseram aos meus pais que tinha 5% de hipóteses de viver”. Então, “o meu pai pediu para eu ser transferido para Vila Real, mais perto da família. Os médicos recusaram. Sorte ou não, eles disseram que eu tinha calhado nas suas mãos, por isso ou saía dali recuperado ou saía morto”.
Esteve umas semanas nos cuidados intensivos e conta que tinha na sua cama a imagem de Nª Srª da Piedade. “Era muito pequeno, mas só pensava na festa da Senhora da Piedade. Os meus pais pediram aos médicos e consegui vir à romaria. Vim no domingo e na segunda-feira de manhã já estava novamente no hospital. Não podia andar na rua, só estive ao pé da Senhora da Piedade, que era o que eu queria”, conta Daniel Grácio, revelando que o pai, quando regressou do hospital para Sanfins do Douro, dirigiu-se logo ao Santuário e ao Servinho, pedindo que olhassem pelo filho. “Quando regressou ao Porto, eu estava mais estável, depois de ter levado uma dose de quimioterapia forte. Apesar da pouca esperança que havia na minha recuperação, o certo é que estou aqui para contar esta história e já lá vão mais de 25 anos”.
“É uma romaria única, que nunca teve uma interrupção, nem na pandemia, pois tentamos sempre honrar
a tradição”DANIEL GRÁCIO
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
Daniel Grácio conta, ainda, um episódio recente que espelha a devoção à Senhora da Piedade. “O Vasco Sequeira é emigrante na Suíça. Antes de vir, ligou-me a perguntar a que horas fechava o Santuário, pois queria vir cá, antes de entrar na vila. E assim foi”.
Outra situação, também com emigrantes, aconteceu há cerca de um mês. “Uma família veio de propósito para agradecer ao servo Sebastião Maria, mas como estavam a decorrer as obras de recuperação do altar, eles estavam tristes por não verem a urna que estava tapada. Ligaram-me, eu vim cá e mostrei a urna para que eles pudessem agradecer ao Servinho”, afirmou o presidente da associação, salientando que as pessoas se movem sobretudo pela fé, tanto a N. Srª da Piedade como ao servo Sebastião Maria.
“O que carateriza
o Servinho é o tamanho do coração e, nos dias de hoje, se há uma coisa que falta é coração”JORGE CACHIDE
PADRE
O padre Jorge Cachide revela à VTM que estas festividades atraem milhares de pessoas, movidas pela fé. “A figura de Nª Srª da Piedade fala-nos muito da dor, do sofrimento, em que as pessoas recorrem a Ela para pedir ajuda nos momentos de grande aflição, como a perda de um filho, por exemplo”. Além disso, facilmente nos identificamos com a Sua figura, porque a nossa vida tem sofrimento e dor”.
O pároco revela que muitas pessoas vêm pela vertente da devoção e da fé. “São trazidas pela vida, que por vezes é pesada. Precisam de ajuda e têm de recorrer a alguém. São essas pessoas que assistem à missa e aos atos religiosos”.
Para além da devoção à Srª da Piedade, há muita gente que tem devoção ao Servinho, uma figura que não está aprovada para devoção pública, mas de que se fala muito pela vida de devoção à Nª Senhora. “Foi uma criança rejeitada, que teve uma vida dura, exigente, mas não transformou isso em ódio, raiva ou revolta, transformou isso em misericórdia, compaixão”, sublinha o padre Jorge, adiantando que Sebastião Maria soube transformar o sofrimento que viveu em empatia, com a sua fé na Nª Srª da Piedade. “Compreender, ser sensível e procurar ir ao auxílio das outras pessoas que sofreram. Como passou por isso, ele sabia o que era. E a sua figura significa muito para estas pessoas, ainda que a devoção maior a Sebastião Maria seja na zona de Braga, apesar do corpo dele estar neste Santuário”.
Segundo o padre, Servinho “é uma figura que as pessoas estão a começar a redescobrir, apreciar e valorizar, porque aquilo que o carateriza é o tamanho do coração e, nos dias de hoje, se há uma coisa que falta é coração”.
BAIRRISMO
Além da fé e da tradição, Daniel Grácio refere que sempre existiu um “bairrismo, que, embora pareça adormecido durante o ano, na preparação da romaria reaparece e queremos ser, e somos, os melhores”.
É uma romaria “única”, com mais de dois séculos de tradição. “Nunca se deixou de fazer, nunca teve uma interrupção, nem na pandemia, pois tentámos sempre honrar a tradição. Embora Ela não nos fosse visitar, nós viemos visitá-la. Sem termos a perceção, cumprimos o pedido do servo Sebastião Maria, que disse aos sanfinenses para fazerem sempre a festa à Senhora da Piedade, para que haja paz e harmonia no povo de Sanfins do Douro. E nós temos levado esse pedido a peito”, conclui.