Os homens saiam para a tasca e bebiam até caírem para o lado. Tossiam, acariciando o bigode, acendiam um cigarro tragando-o rápido, voltavam para casa emborrachados.
Aquela casa, não era rica nem pobre. Dona Maria e sua tia Clotilde discutiam pontos novos de tricot. Na outra sala ao lado a canalha brigava só para manterem o velho hábito.
Uma corneta tocava uma melodia forte e um clarinete soprava mostrando a força da arte do músico que nunca o foi.
Aos domingos todos levavam as roupas domingueiras para a missa. A igreja de Mateus tinha sempre o mesmo cheiro, o padre a mesma voz calma e o sermão a mesma mensagem. Rezar, rezar, para a remissão dos pecados, era a palavra repetida do velho prior.
Era dia de festa, havia fartura.
À tarde, a Banda de Mateus tocou no coreto. Os namorados passeavam de braço dado, e o beijo só acontecia às escondidas. Dona Maria deixou a sua filha Isabel ir para o baile à noite com a aprovação da tia Clotilde. Isabel era um encanto de menina a roçar os dezoito anos. O arraial ficava longe da casa e pelo caminho Isabel viu um homem desprezível com a barba por fazer apesar da profissão de barbeiro. Tinha sido casado ainda novo e gostava da mulher. Um dia ao chegar a casa viu que a Beatriz tinha fugido com um caixeiro-viajante, deu-lhe então para as bebedeiras e deixou de fazer a barba. Isabel teve pena do homem e não foi ao arraial: pôs-se a matutar na vida infeliz de tantas pessoas sem motivo justificável.
Em casa, a tia Clotilde passa revista a fotografias de gente do passado da aldeia. Mostra a Isabel retratos do falecido marido. “Sabes que o teu falecido tio, um dia deu um baile para toda a freguesia. Nesse baile, ele se ajoelhou a meus pés e disse-me que eu era a moça mais bonita que tinha visto em toda a sua vida”.
Tia Clotilde pigarreava de emoção. “Só que numa tarde linda de primavera o meu Jaime apareceu degolado junto a um galaroz também ele degolado”.
Isabel ao ouvir esta história sentiu calafrios. “Como pode haver gente que sinta prazer em passar a faca na garganta de alguém”?
Isabel ouviu histórias horríveis. “Esta gente não sabe fazer mais nada senão matar? Onde fica o amor, onde mora o perdão”? Isabel não chegou a casar. Não confiava nos homens. Viveu para os outros. E foi para freira em Coimbra.
Uma noite, deitada, olhando as estrelas que piscavam e brincavam no céu, morreu em paz!