No dia 13 deste mês a geringonça começou a desengonçar-se. Enferrujou e ameaçam cair peças. Tudo o que começa tem prazo de validade. É como a vida humana. Em criança são tudo sorrisos, beijos e abraços. Pela vida fora há coisas boas e outras menos boas. Até que chega a morte. E tudo se resume a lágrimas de uns, de saudade de outros até ao desdém de alguns.
No 2º sábado de 2018, alguns factos revelaram mazelas: a tragédia de Tondela, o render da guarda na liderança do PSD e a confirmação de duas ratoeiras armadilhadas: «a remoção de Joana Marques Vidal. Não evitará o julgamento de Sócrates. Mas poderá facilitar o seu adiamento para depois das eleições». E a (in)coerência de Catarina Mendes, que veio a público afirmar que o PS não mudará aquilo que provocou o escândalo no Parlamento com a aprovação do maior crime democrático de que há memória: pagar os calotes dos partidos políticos e isentá-los do IVA.
A historiadora profissional Fátima Bonifácio, afirmara no Público da véspera o seguinte:
«tivemos desde o 25 de Abril cinco procuradores-gerais: Pinheiro Farinha, 1974 a 1976 (dois anos); Arala Chaves, 1977 a 1984 (oito anos); Cunha Rodrigues, 1984 a 2000 (16-17 anos); Souto de Moura, 2000 a 2006 (seis anos); Pinto Monteiro, 2006 a 2012 (seis anos). Ou seja, em cinco procuradores-gerais que estiveram em exercício entre 1974 e 2012, só dois cumpriram o mandato pseudo-tradicional de seis anos. Três deles foram atípicos — acaso se tivesse estabelecido um mandato tipificado, que os números mostram não ter sido o caso. Dois casos em cinco não fazem uma tradição histórica.
Conclusão: a evacuação de Joana Marques Vidal, a coberto de desculpas esfarrapadas, é uma decisão puramente política, que convém a António Costa e, por extensão, aos seus camaradas de partido e de Governo.
Tudo aconselhava o prolongamento do mandato de Marques Vidal, desde a sua competência, lisura e coragem, até à notória inconveniência de a remover numa circunstância em que a justiça portuguesa passa pela sua maior prova. Paradoxalmente é por causa desta circunstância e por causa das raras qualidades da procuradora-geral que esta se torna um estorvo para António Costa».
Resta a serenidade e o civismo na eleição do substituto de Pedro Passos Coelho. Ainda houve por lá uns «pachecos» e alguns despeitados crónicos. Mas comparando com aquilo que se passara no partido do poder, entre António Costa e José Seguro, que lições devem tirar-se?
Não teremos aí a explicação para a evidência entre a bancarrota e a normalidade económica e social?
"A evacuação de Joana Marques Vidal, a coberto de desculpas esfarrapadas, é uma decisão puramente política, que convém a António Costa e, por extensão, aos seus camaradas de partido e de Governo”.