Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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A Pessoa Humana, Coração da Paz

1- Desde há anos que o dia primeiro de Janeiro é, por iniciativa dos Romanos Pontífices, dedicado à causa da Paz, que sobre ela enviam expressamente uma mensagem aos católicos e aos governos do mundo. Neste ano o Papa centrou a sua mensagem sobre a «Pessoa Humana, Coração da Paz», na qual se vêm reflectir […]

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1- Desde há anos que o dia primeiro de Janeiro é, por iniciativa dos Romanos Pontífices, dedicado à causa da Paz, que sobre ela enviam expressamente uma mensagem aos católicos e aos governos do mundo.

Neste ano o Papa centrou a sua mensagem sobre a «Pessoa Humana, Coração da Paz», na qual se vêm reflectir todos os problemática mundiais: o drama do aborto e a investigação científica com embriões, a educação, a situação da mulher, o desequilíbrio económico mundial com referência explícita à problemática africana, o terrorismo, a liberdade religiosa, a ecologia e a industrialização, as organizações internacionais, a filosofia natural.

É uma mensagem densa e transparente, típica deste Papa, sempre empenhado em rasgar clareias de luz e firmeza, cheias de racionalidade, e que todos os povos e culturas, mesmo não cristãs, possam entender.

 

2- O pilar da Paz referido neste ano é a pessoa humana, desde a concepção até à morte natural. Como acontece nas grandes condutas de água, há pilares inamovíveis, e o respeito pela pessoa humana é um deles, ao qual tudo se deve sacrificar: dinheiro, conveniências, comodismo, vaidades científicas, intelectuais e políticas. Derrubado esse pilar, nenhuma construção humana se mantém, pois os interesses e conveniências que se sobrepuseram ao respeito pela pessoa acabarão por derrubar outros pilares. Multiplicar-se–ão outras violências na tentativa de obter benefícios e triunfos à custa das pessoas, sejam lucros financeiros em explorações laborais, sejam triunfos científicos em pesquisas de laboratórios com embriões, seja a vitória sobre o drama dos doentes incuráveis e idosos pelo recurso à eutanásia, sejam afirmações de poder à custa dos cidadãos antipáticos, sejam vitórias políticas dos Estados através de suicidas fanatizados, seja a homogeneidade social pela humilhação dos crentes e negação da liberdade religiosa e de culturas diferentes, seja a violência intelectual pela desprezo da racionalidade natural.

 

3- O Papa demora-se na análise de cada um destes sectores: fala das crianças, «imagem e fermento natural da bondade e da esperança», comprometidas pela «exploração e pela maldade de adultos sem escrúpulos», podendo ler-se nestas palavras a exploração comercial e sexual das crianças e também o aborto e experiências de embriões; fala do dinamismo da pessoa como alguém que cresce pela comunhão com os outros e com Deus, lembrando assim que a educação religiosa faz parte da criação e da pessoa; fala da «filosofia natural», do «direito natural» como algo objectivo, anterior ao homem, «gramática» inscrita no projecto da criação e fonte comum de regras para todos os credos religiosos, rejeitando as ideologias do absurdo e idealismos filosóficos, repetindo a afirmação feita na Alemanha: «Nós cremos que na origem está o Verbo eterno, a Razão e não a Irracionalidade» e as palavras de João Paulo II: «não vivemos num mundo irracional ou sem sentido, existe uma lógica moral que ilumina a existência humana e torna possível o diálogo entre os homens e os povos»; fala do direito à vida humana como algo que está acima do poder dos homens, políticos ou cidadãos individuais, uma afirmação linear feita pelos bispos de Portugal e que tem surpreendido alguns dos nossos políticos e intelectuais; fala do Continente africano como exemplo do direito dos povos à solidariedade humana; fala da condição feminina, seja da mulher explorada como objecto, seja mesmo das culturas (asiáticas, muçulmanas, africanas?) que reservam oficialmente à mulher um estatuto secundário permanente; fala da «ecologia da paz» ou da necessidade de equilibrar a produção industrial com o respeito pela natureza; fala das religiões que, ao proporem a vingança e o recurso a actos criminosos em nome de Deus, apresentam um conceito de Deus inaceitável; fala das filosofias e das ciências que apresentam a pessoa humana de modo «frágil», como se verifica entre nós ao duvidarem sistematicamente da natureza humana do embrião, deixando-o assim sujeito a todas as manobras políticas e laboratoriais; fala dos códigos oficiais dos Direitos Humanos firmando que esses direitos nascem da natureza dos cidadãos e não da vontade das assembleias; fala da legislação interna das nações que não podem inventar direitos para investir em armas nucleares os dinheiros dos cidadãos.

Numa escola, o professor, a fim de testar os conhecimentos dos alunos em geografia física, entregara-lhes um mapa mundi feito em pedaços, pedindo-lhes que o reconstituíssem. Passaram longas horas e pressentia-se um fracasso. A dada altura um aluno levanta eufórico a voz com o trabalho feito. Como fizeste? Indagaram os outros. Observei os pedaços do mapa do outro lado e descobri que sobre todo o espaço estava desenhado o perfil de um homem grande. Bastou reconstituir o perfil desse homem e, automaticamente, todas as nações, montes, rios e mares da outra face estavam no seu lugar.

É essa a mensagem do Papa: se fixarmos a política e a civilização na dignidade da pessoa humana, tudo pára certo. É uma mensagem especialmente oportuna para a Europa que vem a sobrepor interesses de vária ordem às pessoas: não há crianças, desaparecem as maternidades, não há escolas, não há empregos, não há segurança para os idosos. Para nós, portugueses, mergulhados numa campanha dolorosa em que até a criança a nascer seria sacrificada ao hipotético desejo da mãe, a mensagem do Papa é um alerta directo.

No início de 2007 coloquemos este apelo do Papa como um sino que marque o ritmo da vida em todo o ano.

 

* Bispo de Vila Real

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