Há dias, alguém me perguntou:
– “Leste a entrevista de Monsenhor Ramos, à revista “Sábado”, de 24 de Julho?
Eu não tinha lido, mas a curiosidade ficou espicaçada.
O Padre Ramos tinha estado em Viseu, ainda os meus filhos mais velhos eram alunos da Primária ou, quando muito, do Ciclo Preparatório. Eles e outros rapazes tinham por hábito “assaltar” o pequenino apartamento, onde vivia este jovem Sacerdote, recém-ordenado, na companhia de dois rapazes, um ainda estudante e outro já Engenheiro.
Nesse pequeno apartamento, aos Sábados, à tarde, organizavam actividades variadas para rapazes: modelismo, viola, música, estudo acompanhado, entre outras. Nos “tops”, estavam sempre as excursões, os acampamentos, as escaladas, o ciclismo, os percursos pedestres, a canoagem, os convívios e tertúlias muito divertidas, com a presença animada de rapazes de outros clubes, do país ou do estrangeiro. Para os que quisessem, havia vários meios de formação humana, de doutrina católica, etc. Era o “Clube Celta”, nos seus inícios.
Alguns gostavam muito de assaltar a cozinha, para satisfazer o apetite devorador daquelas idades. O que encontravam era, quase sempre, fruto da generosidade de senhoras amigas.
Ali vivia-se, a sério, o respeito pela liberdade de cada um e o apelo à correspondente responsabilidade. Apesar de todas as traquinices da miudagem, aquela porta estava sempre aberta a toda a gente. Todos consideravam aquele lugar como a sua segunda casa. O Padre Ramos ganhou um lugar privilegiado no coração de muitos rapazes de Viseu.
Foi para Lisboa e, mais tarde, soubemos que tinha ido iniciar o trabalho do Opus Dei, na Croácia. Antes, estudou a língua croata, dedicando-se “durante dois meses, mais de dez horas por dia e tinha três aulas, por semana, com um professor de Inglês da Academia Militar”. Queria “aprender o essencial, para poder celebrar a missa, pregar e confessar”.
A entrevista refere: “Podia ter sido um bom engenheiro electrotécnico, formou-se com média de 16 valores, na Universidade do Porto. Tornou-se sacerdote já depois de ter entrado para a Obra o português que, há cinco anos, é o Vigário Regional do Opus Dei, na Croácia. Vive num apartamento de Zagreb, com outros 10 membros, e desloca-se em transportes públicos ou em carro emprestado, porque ainda não tem automóvel”.
Impressiona a simplicidade com que abre o seu coração e responde a todas as perguntas, com uma sinceridade total.
Contagia-nos a alegria com que relata o progresso das actividades apostólicas do Opus Dei, na Croácia, as vocações que foram surgindo, a forma como passa as horas do seu dia.
Abre a sua alma, para nos falar da vida interior, da importância da oração e da mortificação feitas com naturalidade, como o “respirar da alma”, em palavras de S. Josemaria. Mas não deixa de sublinhar a importância das mortificações indispensáveis para o cumprimento do dever quotidiano: “esforço-me por acabar bem o trabalho, por atender com cordialidade as pessoas, por ter paciência com as 50 a 100 pessoas que confesso cada dia, etc”. E remata, com toda a franqueza: “Nem sempre sou bem sucedido, mas esforço-me por não desistir”. É o começar e recomeçar necessário para alcançar metas em todas as facetas da vida e ser bom instrumento de Deus.
“O Opus Dei não é um museu de santos, mas sim um laboratório de pecadores. O processo de conversão destes pecadores em santos é longo e laborioso”.
Colaboração do nosso pobre barro com a graça que nos leva onde não imaginamos. Descobrimos, então, que todos somos protagonistas de um projecto divino, que só nós podemos realizar com a ajuda da graça. E também podemos fazer nossas as palavras do Psdre Ramos: “a minha vida tem sido uma verdadeira aventura”…
