Numa requalificação e ampliação que exigiu um investimento de mais de 3,3 milhões de euros, e em que nada foi deixado ao acaso, o Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (HV-UTAD) é agora considerado um dos principais centros de investigação e tratamento das várias espécies animais.
Criado em 1992, as apostas da academia transmontana fizeram com que, ao longo da sua história, o hospital abrisse caminho na medicina veterinária, colocando-se na linha da frente, não só no que diz respeito ao ensino e investigação, mas, também enquanto prestador de serviços, sendo de recordar que foi o primeiro a garantir, em todas as valências (animais de pequeno e grande porte), um atendimento 24 sobre 24 horas, 365 dias por ano, e a desenvolver um serviço de internato, de um ano, que hoje conta com candidatos de Norte a Sul do país.
Depois de um avultado investimento, o HV-UTAD volta a destacar-se a nível nacional, ao ser considerado “único” quando se fala na concentração de serviços e na criação de infra-estruturas inovadoras que dão resposta a todas as espécies, desde animais de companhia, como cães e gatos, aos de grande porte e aos exóticos e selvagens.
“Com esta ampliação a grande aposta foi a espécie equina”, salientou Carlos Sequeira, vice-reitor para o Planeamento, Instalações e Equipamentos, referindo como grandes novidades o picadeiro e a piscina para os tratamentos de fisioterapia dos cavalos.
José Eduardo Pereira, vice-director do Hospital Veterinário, explicou ao Nosso Jornal que, apesar de haver infra-estruturas semelhantes, não existe em Portugal uma área com as mesmas condições de tratamento aos doentes equídeos. “Temos um picadeiro com 260 metros quadrados para a recuperação motora dos cavalos e uma piscina de água quente para a hidroterapia”, ambos cobertos, realçou o mesmo responsável, referindo ainda que será adquirido, em breve, um tapete rolante.
Na nova área do VH-UTAD é de salientar ainda uma piscina idêntica para a recuperação de cães, uma área de internamento para os cavalos, uma sala para a realização de necropsias, e, entre outros equipamentos, o forno crematório que, para responder a todas as exigência legais, exigiu um investimento de 250 mil euros.
Uma infra-estrutura pensada ao pormenor
Desde o momento em que os ‘utentes de quatro patas’ entram no Hospital, até ao seu tratamento, todos os passos foram pensados de forma a garantir um melhor atendimento possível, revelou Artur Varejão, director do Hospital Veterinário, contabilizando que é realizada uma média de 20 atendimentos por dia.
“Os animais são recebidos por veterinários ou por um aluno acompanhado por um técnico veterinário ou professor”, adiantou o mesmo responsável, explicando que os doentes são depois conduzidos para um espaço de consulta e, seguidamente, para as salas de tratamento.
Quanto aos donos, esses podem chegar a todos os espaços do hospital para acompanhar o seu animal sem, no entanto, entrar nas áreas reservadas ao tratamento, através de uma galeria que circunda todo o edifício e que dá acesso a todas as salas de internamento.
Com várias salas de cirurgia, zonas de internamento e cuidados intensivos, área reservada para pacientes com doenças infecto-contagiosas, sala para raio-X e outros exames de imagiologia e até mesmo um “bloco de partos”, o HV-UTAD está, praticamente, todo equipado para dar resposta às necessidades, contando ainda com o apoio de uma farmácia orientada por um farmacêutico profissional cujo funcionamento foi agora melhorado através da implementação de um programa informático para gestão de stocks e equipamentos para conservação dos medicamentos.
“Estamos à espera da luz verde do governo para a aquisição de mais equipamentos para a área da imagiologia”, explicou Carlos Sequeira, contabilizando que deverão ser investidos mais de três milhões de euros em aparelhos para a realização de exames, como TAC e Ressonância Magnética, entre outros.
Depois de responder a mais algumas necessidades ao nível dos equipamentos, como por exemplo uma mesa cirúrgica horizontal para animais, a qualidade e complexidade do HV-UTAD facilitarão a certificação do curso de Medicina Veterinário a nível europeu e mesmo internacional, garantiu o mesmo responsável.
Arquitectura reconhecida a nível Ibérico
O projecto que praticamente duplicou a área do edifício e permitiu a criação de uma espaço funcional e bem enquadrado na sua área de implementação, mereceu o reconhecimento da revista ‘Arquitectura Ibérica’, publicação que, numa edição especial dedicada ao sector da saúde, coloca o conceito arquitectónico do HV-UTAD ao lado de projectos como o Futuro Hospital de Lamego, o Hospital da Luz, em Lisboa, o edifício do Instituto CUF, em Matosinhos, ou o Hospital Central da Madeira, entre outros.
“O Túnel de Voo é, de certa forma, um edifício inovador e alvo da atenção da comunidade internacional ligada à área da recuperação de espécies selvagens”, refere o artigo da revista de especialidade sobre a infra-estrutura octogonal, construída junto ao hospital, mas totalmente independente deste, a nível físico, cujo desenho possibilitou conjugar um túnel onde as aves selvagens podem voar ininterruptamente, sem encontrar obstáculos, e um conjunto de espaços, como gabinetes, salas de tratamento e internamento, num único edifício.
“Esta estrutura é única a nível ibérico e acredito que é completamente inovadora a nível internacional”, considerou José Eduardo Pereira, explicando que o desenho do Centro permite que, em visitas de estudos, às crianças possam admirar as espécies selvagens no túnel através de uma galeria com janelas que permitem que as aves sejam vistas sem se sentirem observadas.
CRATAS garante regresso dos utentes à natureza
Para além do Túnel do Voo, cujo núcleo é, então, composto por um conjunto de espaços de tratamento dos animais, o Centro de Recepção, Acolhimento e Tratamento de Animais Selvagens (CRATAS) conta ainda com um segundo túnel de voo linear e câmaras de muda, um conjunto de infra-estruturas que permite o tratamento e completa recuperação das várias espécies. “Cerca de 90 por cento dos animais que dão entrada no hospital são aves”, sublinhou o Director do Serviço de Animais Selvagens e Exóticos, Filipe Silva, contabilizado que nos últimos dois anos foram tratados no Centro 410 animais.
“Alguns animais têm que ser eutanasiados pela gravidade dos ferimentos”, explicou Roberto Sargo, funcionário do centro de tratamento de animais selvagens, adiantando no entanto que a taxa de recuperação em vida é de 100 por cento, sendo que, desses, 70 por cento são devolvidos à natureza e os restantes, pelo facto das sequelas já não permitirem uma adaptação ao seu estado selvagem, acabam por ganhar uma nova morada em centros de educação ambiental ou parques ecológicos.
Actualmente o CRATAS tem 33 animais selvagens sob o seu cuidado (como grifos, cegonhas, açores, corvos, corujas, e até mesmo uma raposa), entre os quais espécies muito raras como o abutre negro, a maior ave de rapina existente em Portugal, ou uma águia de asa redonda.
“A maior parte dos ferimentos estão relacionados com a actividade humana”, explicou ainda o veterinário, enumerando como principias problemáticas os atropelamentos, os ferimentos por tiro, a manutenção em cativeiro ou as electrocussões.