Esta pandemia que estamos a viver, para além do incómodo e angústia que nos atinge a todos, vai permitindo que possamos fazer juízos de valor sobre a forma como os diversos responsáveis, ao nível político e ao nível da gestão do serviço de saúde, se vão comportando, sendo difícil ocultar as dificuldades encontradas por todos os países, uns mais do que outros, para fazer face a esta tragédia.
No que ao nosso país respeita, estes quase nove meses que levamos desde que os primeiros surtos, permitem-nos uma ideia das nossas debilidades, no ataque à doença propriamente dita e nos seus reflexos na economia, nas finanças públicas e em muitos outros aspetos.
Tem-nos surpreendido, e afirmamo-lo com alguma perplexidade, a preocupação que a nível político, em particular dos governantes com maior responsabilidade na gestão dos problemas da saúde propriamente dita, a enfatizar o bom desempenho do Serviço Nacional de Saúde – SNS, onde se destacaram os seus grandes profissionais.
Porém, o contínuo aumento da dimensão da pandemia, apresenta sintomas de exaustão, evidenciando já falta de capacidade, o que é natural, porque o SNS não é elástico.
Recomendaria a mobilização do país todo para defender os milhares de vidas em risco. Há falta de assistência, incapacidade de instalações públicas e insuficiência de meios humanos. Os nossos governantes, a começar pelo Chefe do Governo, passando pelos responsáveis do Ministério da Saúde, parecem recusar pedir ajuda ao sector privado e social ligado à saúde, por estritas razões ideológicas.
O bastonário da Ordem dos Médicos e vários dos seus antecessores vieram a público, em carta aberta à Ministra da Saúde, afirmar que não há tempo a perder. “Este é o momento do SNS. É o momento do SNS liderar uma resposta global, envolvendo de acordo com as necessidades dos doentes, os sectores privados e social, que permita aumentar o acesso a todos os cuidados de saúde, com uma resposta inequívoca a todos os doentes (Covid, não Covid e gripe sazonal).
Então senhor Dr. António Costa e Senhora ministra da Saúde, é necessário um apelo público destas individualidades, para que V. Exas. permitam que mais profissionais de saúde, mais equipamentos disponíveis, possam ajudar a salvar a vida de tantos milhares de cidadãos, que vêm a sua saúde em risco de colapsar? Há aqui alguma ideologia política que possa impedir tão óbvia solução? O futuro se encarregará de validar as ações e omissões de quem as tomar. Sendo certo, porém, que é a vida de cada cidadão que está primeiro. Porque a vida de cada um, como todos sabemos, é um fenómeno que não se repete.