Numa espécie de ‘déjà vu’ do que aconteceu há quatro anos, por volta das dez da noite de domingo, Manuel Martins debruçou-se sobre a varanda do Hotel Miraneve para saudar as dezenas de vila-realenses que se deslocaram até ao ponto de encontro do Partido Social-Democrata (PSD) para festejar mais uma vitória, a quinta e última do autarca.
Rodeado de bandeiras e entre abraços, felicitações efusivas e até mesmo algumas lágrimas, o reeleito autarca recebeu os cumprimentos depois de confirmada a vitória em várias freguesias do concelho que, uma a uma, foram sendo recebidas com sessões de aplausos, ou comentários, entre dentes, de militantes que, estiveram atentos aos resultados que iam recebendo pelos canais de televisão ou por chamadas telefónicas desde as 19h30.
“Ganhamos Folhadela com mais de 300 votos de diferença”, revelava efusivamente uma das militantes, e seguia-se a ovação dos presentes. “Perdemos Mateus”, comentava outro social-democrata com evidente desilusão. A certa altura da noite até se começou a sonhar com a possibilidade do partido conseguir recuperar um vereador, o que não se veio a concretizar, permanecendo assim a estrutura do executivo autárquico com o ‘marcador a assinalar 4-3’ (PSD – Manuel Martins, Domingos Madeira Pinto, Dolores Monteiro e Miguel Esteves; PS – Rui Santos, Eugénia Almeida e Henrique Morgado).
Apesar dos resultados da totalidade das freguesias só terem sido divulgados bem depois da meia-noite, por volta das onze já as caravanas de carros carregados de bandeiras, bombos, buzinas afinadas e militantes, de todas as idades, informavam o feito político à população.
“Como alguém dizia, ao fim de 33 anos este povo ainda confia em nós, e estamos muito satisfeitos com isso”, revelou Manuel Martins, que foi assim eleito para um quinto mandato, no final do qual deverá cumprir o seu 20º aniversário enquanto líder da câmara municipal.
Mais, o autarca deixou a garantia de que em conjunto com a sua equipa “não vai desiludir os vila-realenses, de certeza absoluta”. “Serei presidente até ao final, a única coisa que me pode impedir é o patrão lá do alto. De resto nada me impedirá”, garantiu.
Relativamente aos próximos quatro anos, o edil recordou o seu programa eleitoral classificando-o como “um compromisso para cumprir”. “Aliás não fomos muito exuberantes no número de projectos e de medidas. Apresentamos aquelas que são fundamentais para as pessoas e para a transformação de Vila Real na capital da região Norte.
Entre as novidades dos resultados está a renovação da estrutura da Assembleia Municipal que, se no anterior mandato era constituída apenas pelas bancadas do PS e do PSD e por um deputado da CDU, agora contará também com dois deputados municipais do CDS-PP e um do Bloco de Esquerda.
No que diz respeito aos resultados das três dezenas de freguesias do concelho, de sublinhar a ‘transferência de poder’ de Mateus, Vale Nogueiras e Vila Marim, do PSD para o PS e, pelo contrário, de Vila Cova e Ermida, do PS para o PSD.
“Não atingimos os objectivos a que nos propusemos, não ganhamos”, revelou Rui Santos, a aposta socialista para a autarquia da capital de distrito, deixando no entanto a certeza de que o partido “vai honrar” a confiança dos cerca de 11 mil vila- -realenses que acreditaram nas propostas do PS. “Vamos participar activamente na Assembleia Municipal e na Câmara, em prol da nossa terra, defendendo o que achamos ser o melhor para o concelho”, adiantou.
A terceira força política mais votada na eleição para a Câmara Municipal foi o CDS-PP, partido que considera o resultado conseguido como “muito positivo”. “Passamos de 700 votos, em 2005, para cerca de 1800”, contabilizou o candidato popular Patrique Alves.
“Os vila-realenses reconheceram que o CDS tem ideias e um projecto de futuro, um projecto que não se esgotou ontem (domingo), vamos trabalhar para ter, daqui a quatro anos, um resultado muito melhor”, explicou o candidato satisfeito pela eleição de dois deputados na Assembleia Municipal.
No Bloco de Esquerda, que se candidatou pela primeira vez à liderança do município vila-realense, as “expectativas criadas não se concretizaram”, como explicou, ao Nosso Jornal, Carlos Gomes, cabeça-de-lista do partido para Vila Real. “Posso reconhecer que elevamos muito alto a fasquia, um pouco também porque não tínhamos referências de eleições autárquicas anteriores”, explicou.
Ficando aquém da ideia de eleger um vereador, Carlos Gomes revela, no entanto, o objectivo cumprido de eleger um deputado na Assembleia Municipal, um feito, tendo em conta que “foi a primeira vez” que o partido foi a votos no concelho. “Temos obrigações para com que votou em nós, e para com a população em geral, por isso, vamos ser uma força estável, consistente e com ideias”, adiantou o ex-candidato, deixando a certeza que o BE não passará despercebido nos próximos quatro anos.
O último partido a surgir no gráfico dos resultados é a CDU que, apesar de manter o deputado municipal eleito em 2005, perdeu no domingo cerca de 200 votos. “De facto, a CDU tem que repensar a sua estratégia para futuras eleições”, reconheceu José Caldeira, salvaguardando que, apesar da CDU não ter superado a votação de há quatro anos, conseguiu representatividade em termos das assembleias de freguesia.
“Há muito trabalho a fazer para combater a agressividade das campanhas dos outros partidos”, explicou o ex-candidato, referindo que a CDU tem que manter-se no nível acima ao dos partidos que estão agora em crescimento como é o caso do CDS-PP e do BE.
Decorrido sem incidentes de maior, a excepção de relatos de alguma tensão em Quintã, de sublinhar apenas que, apesar da afluência às urnas no concelho de Vila Real ter sido notoriamente superior às legislativas e de mais pessoas terem ido votar relativamente a 2005 (mais cerca de 800), a percentagem de abstenção sofreu um aumento de cinco por cento relativamente às anteriores eleições autárquicas, isso porque, se há quatro anos estavam inscritos 43 877 cidadãos, este ano os cadernos eleitorais contavam com 49 576.