Após dois anos em que as celebrações pascais foram condicionadas pela pandemia, este ano estamos confrontados com o contexto da guerra e suas terríveis consequências. Nesta Páscoa desejamos que todos acolham a paz que o Ressuscitado nos veio trazer. Pedimos que todos se convertam à paz e trabalhem ativa e incansavelmente na sua construção.
Neste processo de conversão é indispensável não esquecer que a paz transmitida por Cristo ressuscitado é a paz alcançada por aquele que antes foi crucificado porque permaneceu fiel à verdade e ao amor até ao fim, porque enfrentou a injustiça e não recuou perante a violência, daquele que não teve medo da própria morte porque ofereceu a vida por amor e salvação de todos. A libertação que Jesus Cristo nos alcançou foi difícil e a paz que Ele nos deixou é exigente. Está vinculada ao exercício do perdão, à busca da reconciliação, à prática da misericórdia. Conjuga-se sempre com vida plena, liberdade e fraternidade e não se confunde nunca com ódio, violência, tirania ou qualquer tipo de opressão.
A paz que celebramos e acolhemos na Páscoa é luminosa, enchendo de luz os corações que a ela se convertem e pode ser também iluminadora para a humanidade. Não se trata, porém, de uma luz comparável à das falsas utopias, das retóricas vazias, das hipocrisias dominadas pelos interesses, porque o brilho destas rapidamente fica obscurecido pelas suas contradições. Aquela paz que Jesus nos deixou não é como a do mundo, mas é genuína e profunda. Cada crente que celebra a Páscoa e nela faz, de vela acesa, a renovação da sua profissão de fé batismal, assume o compromisso de partilhar a luz pascal e de tudo fazer para semear eficazmente a paz no seio da sociedade humana.
No Evangelho, aquelas e aqueles que acolheram o dom da paz do Ressuscitado experimentaram uma alegria indescritível. Da mesma forma, hoje, apesar da pandemia e da guerra, não podemos deixar de celebrar a Páscoa com alegria. A razão determinante dessa alegria é o acontecimento da ressurreição de Jesus, centro da nossa fé e fundamento da nossa esperança. Confirmamos a certeza de que Deus não desistiu de salvar a todos e cada um, não desistiu de resgatar esta humanidade, apesar dos seus erros e contradições. Por outro lado, a possibilidade de realização das celebrações pascais de modo presencial constitui um motivo acrescido para o nosso contentamento. Celebremos esta Páscoa com alegria, sem deixar de rezar pelas vítimas das guerras e por todas as pessoas que não poderão viver esta Páscoa com normalidade, junto da sua família, na sua comunidade ou na sua terra. Celebremos esta Páscoa em segurança não descurando o cumprimento das regras sanitárias.
A tradição cristã lembra-nos que aqueles que acolheram a luz pascal se congregaram em comunidade de crentes. De facto, a Igreja nasceu na Páscoa, marcada pela experiência forte da presença do Ressuscitado e disponível para ser enviada pela moção do Espírito. Que esta Páscoa signifique o retorno dos cristãos a uma maior vivência comunitária e represente a reativação dos dinamismos pascais, próprios de cada comunidade cristã.
Por feliz coincidência a nossa diocese celebrará na semana da Oitava da Páscoa, a 20 de abril, o dia centenário da sua criação. A alegria pascal prolongar-se-á, por isso, em ação de graças pela vida cristã que frutificou ao longo dos anos nesta comunidade diocesana. Como Igreja Local somos parte da história bela e grandiosa que começou na manhã de Páscoa e continuará até ao fim dos tempos. A todos os diocesanos reitero o convite a que vivamos este momento de centenário com profundo júbilo espiritual e reforcemos a nossa comunhão na mesma fé pascal e no mesmo Espírito que faz de nós um só corpo.
Que Deus a todos abençoe e conceda saúde, alegria e paz. Votos de Santa e Feliz Páscoa.