“Não interessa meter a cabeça na areia e fazer de conta que as coisas não existem. Estes números levam-nos a pensar que há qualquer coisa que não funciona, uma vez que em apenas dois anos, o sector cooperativo perdeu quase 30 por cento do volume de vinho para o sector privado”. Este membro do Governo, que esteve na região duriense, sublinhou alguns dos problemas que afectam o cooperativismo no Douro e deixou alguns “recados” ao sector.
“A região do Douro tem vinte cooperativas. São muitas organizações e temos que encontrar soluções que permitam recentrar este movimento cooperativo. Teremos que redimensionar o sector, fazer a concentração de algumas organizações para se conseguir reduzir os custos operacionais e tornar o sector mais competitivo. Mas, de nada vale concentrarmos organizações se não tivermos uma gestão profissionalizada, uma visão empresarial orientada para o mercado. Este é o caminho que as cooperativas têm de seguir e procurar”.
Numa alusão directa ao atraso no pagamento de colheitas que afectam muitos associados das adegas da Região Demarcada, o secretário de Estado foi incisivo para evitar a “fuga” dos sócios das Adegas. O governo já anunciou, para o sector agro-industrial, uma linha de crédito de 175 milhões de euros. “Vamos privilegiar, com bonificações nas taxas de juro, a concentração das organizações, quer sejam cooperativas quer sejam privados”.
Os pagamentos aos sócios das cooperativas também mereceram um reparo. “Temos que pagar atempadamente o preço justo pelas uvas, aos produtores, nomeadamente àqueles que exploram pequenas propriedades, e que, por vezes, têm rendimentos baixos. É isso que o sector privado está a fazer aos vitivinicultores, pagando no acto da entrega da produção”.
Para tentar inverter esta situação, os dirigentes terão que ter vontade e capacidade para encontrar as melhores soluções de profissionalizar o sector. “As Adegas têm de ser mais exigentes, rigorosas e verificarem os resultados anualmente para fazerem cada vez melhor”.
Por outro lado, Luís Vieira enalteceu os produtores-engarrafadores e as empresas pela sua organização. “O sector privado vê o seu mercado cada vez mais consolidando, onde têm já os seus próprios produtores fazendo contratos de dois a três anos para fixar os preços e garantir o escoamento dos vinhos. Este sector privado, pela organização que já tem, vai conseguir manter-se de forma sustentável ao longo de vários anos”. Porém, o secretário de Estado considera que o co-operativismo “presta um papel social” importante. “É uma estrutura organizativa que dá resposta aos anseios dos agricultores. Para além da componente social, também é portador de princípios e valores. Mas, estamos num mercado global, por isso é necessário que estas organizações se pautem por uma dinâmica empresarial para enfrentar as novas exigências do mercado globalizado, onde deve imperar o profissionalismo e a excelência da gestão”.
A reestruturação da vinha na Região Demarcada do Douro foi um assunto também focado pelo responsável governamental. “Nos últimos 8 anos, foram recuperados cerca de 9 mil hectares de vinha e investidos 100 milhões de euros para esta restruturação. O último ano foi o mais dinâmico. Esta região atingiu 30 por cento de área reestruturada a nível nacional e 43 por cento da verba prevista para 2008. Ou seja, foram canalizados 19 milhões de euros. Isto demonstra, claramente, que a região acredita que é possível modernizar. As candidaturas para a restruturação da vinha vão continuar e já em Abril vão abrir as candidaturas”.
Os novos desafios que se colocam ao sector do vinho são importantes e é uma das prioridades do Governo, como nos referiu Luís Vieira. “Há que reestruturar a vinha e fazer a devida promoção do vinho português no Mundo”.
Luís Vieira garantiu que o Governo vai continuar a apoiar o sector vitivinícola. “Já foram criados mecanismos de apoio. O sector do vinho é um sector estratégico da agricultura portuguesa e nós vamos continuar a apoiar a modernização das explorações agrícolas, a transformação, a comercialização, a valorização dos produtos com o apoio aos pequenos produtores, nomeadamente através de medidas compensatórias”.
Para as cooperativas, empresas e organizações que apresentem estratégias comerciais para o mercado internacional há disponíveis 20 milhões de euros, por ano, para a promoção do vinho. Em breve, vão abrir as candidaturas para a produção de vinhos no mercado comunitário.
Uma última nota curiosa sobre a Região Demarcada do Douro. A medida comunitária compensatória para o arranque de vinha não teve qualquer expressão na região duriense. Dos 5 mil hectares previstos de Bruxelas, o Douro arrancou apenas entre 3 a 4 hectares. Assim, foi quase nula a procura do arranque de vinha na região, ao contrário do que aconteceu no resto do país.