“Muitas pessoas já perguntaram se não tenho medo viver aqui… Agora tenho!”, testemunhou Soledade de Almeida que, com o marido e filhos, vive numa habitação, localizada no Lugar do Sôrdo, em Parada de Cunhos, concelho de Vila Real, que por duas vezes foi invadida por areias e pedras que se deslocam pela encosta desde as obras de construção da Auto-Estrada 4.
Segundo Américo de Almeida, a primeira vez que o incidente aconteceu foi durante uma grande chuvada registada “antes do verão, em Março ou Abril” e que, na altura, exigiu a intervenção da Protecção Civil e da Estradas de Portugal porque a areia que se deslocou encosta abaixo não só afectou as traseiras e o pátio da sua casa, mas chegou mesmo a pôr em causa a segurança da circulação automóvel na Estrada Nacional 15, no troço frente a sua habitação.
No início deste mês, com a queda de mais uma grande chuvada, o cenário repetiu-se, não de forma tão grave, mas afectando de igual modo o espaço envolvente da habitação e um pequeno terreno onde Soledade de Almeida semeia alguns legumes.
Segundo a vila-realense, o problema das enxurradas de lama está numa canalização construída para desviar as águas pluviais da estrada, que, em vez de ser conduzida, por um caminho público, para uma zona mais afastada da habitação, foi deixada “a meio”, a céu aberto, mesmo por cima dos terrenos da casa. “A solução é muito simples: é fazerem a canalização como deve ser, com uma saída mais à frente”, explicou Américo de Almeida, referindo que a existência de um caminho público na zona até facilitava esse trabalho.
Segundo o mesmo morador, os contactos com os responsáveis pela obra têm sido infrutíferos, tendo-lhe sido apenas dito que “a obra está bem como está e é assim que vai ficar”. A verdade é que das duas vezes que o “rio de pedras e areia” invadiu a habitação foi a empresa responsável pela obra, a Infratúnel, que, recorrendo aos seus funcionários, assumiu os trabalhos de limpeza da propriedade, chegando mesmo a recompensar, “com algum dinheiro”, os prejuízos que Soledade de Almeida teve na horta aquando da primeira enxurrada.
A família teme que, com a chegada do Inverno, e o aumento esperado da pluviosidade, o cenário se repita, receando mesmo que, no futuro, como a movimentação dos solos, a deposição de areias soltas e a não resolução do problema das águas fluviais, um incidente maior venha mesmo a pôr em risco a sua segurança.
Da entrada da casa de Américo de Almeida é possível ver as obras de construção da Auto-Estrada, pese embora, recentemente, a empresa tenha feito um muro de retenção em estacas e tábuas de madeira que o proprietário da casa acredita servir apenas “para cortar a visão da real inclinação do terreno”.
“Não temos nada contra a construção da auto-estrada, nem onde ela está a ser feita, pelo contrário, temos consciência que ela tem que passar por algum lado”, explicou o vila-realense, que vive na casa centenária (herdada pela esposa) há vários anos, tendo sido esta alvo de obras de ampliação e melhoramento há cerca de dez anos.
O Nosso Jornal tentou entrar em contacto com a empresa responsável pela obra, no entanto, até a hora de fecho desta edição, não foi possível obter uma reacção da construtora às queixas apresentadas pela família Almeida.