Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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Paulo Reis Mourão
Paulo Reis Mourão
Economista e Professor Universitário na Universidade do Minho. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Amuos e Riquezas

Quando perdemos, tendemos a não gostar. Ninguém gosta de perder nem a feijões. E sobretudo ninguém gosta de perder algo que lhe era útil – desde o balão que escapa das mãos das crianças nas festas populares, a atenção dos namorados ou serviços públicos nas localidades.

Como já os Clássicos Gregos sabiam, custa mais perder depois de ter do que nunca ter tido o que se perdeu. Por isso, aborrecemo-nos muito mais quando nos tiram os Centros de Saúde, as Escolas, as Estações dos Correios e os Tribunais quando tantas vezes a eles recorremos e a eles recorreram os nossos amigos e familiares.

O pior é que perder em muitos casos não nos melhora. Por vezes, ‘há males que vêm por bem’, indicando o adágio que perder certas realidades -desde o mau colesterol até os vícios que se vão alimentando – até pode ajudar-nos a melhorar a qualidade de vida e a qualidade de vida dos que nos rodeiam. No entanto, em muitos casos, quando perdemos – desde o tal balão que sobe-sobe até aos serviços público e – já me esquecia – as amizades, as paixões, e os tachos públicos – aborrece muito, torna-nos mais amargos, mais fechados na nossa perda, deprimidos – no fundo, egoístas. Fazemos, no fundo, um ‘luto’ por todas as perdas e nem todos sabem enlutar.

Refleti ao nível da Economia nestas realidades no artigo “Discussing the intriguing relation between unemployment and giving practices” publicado recentemente no International Journal of Non Profit and Voluntary Sector Marketing. Observei aí como num famoso índice que se popularizou recentemente – o World Giving Index – determinados países ficam mais egoístas quando reconhecem um maior número de desempregados, sobretudo desempregados jovens. 
Numa altura em que tantos jovens procuram o primeiro emprego após a conclusão das licenciaturas, este é o momento em que alguns vão tendo colocação e muitos lá se vão colocando, enquanto outros nem uma coisa nem outra. Ao vermos o desemprego aumentar nos que estão à nossa volta, tendemos a amealhar (não vá o mal bater à porta, pois a esmola de Mateus é sempre primeiro aos seus) ou tendemos a ajudar? E quando é em nossa casa que temos desempregados será que nos tornamos mais solícitos ou pelo contrário mais gananciosos? Deixamos de gostar da nossa terra quando perdemos os tachos que ela nos deu, entregamos o cartão partidário quando não nos dizem ámen, passamos a criticar as organizações quando elas não nos convidam para os palanques ou falamos mal da Susana (da bíblica Susana) porque ela não nos sorriu?

Pensando em grande – quando a nossa região se desvaloriza será que sabemos reconhecer o valor das outras? Ou fechamo-nos em regionalismos, ou em nacionalismos, acreditando que só o que fazemos nos aquecerá no inverno do descontentamento? No fundo, no fundo, até que ponto o amuo não revela a nossa verdadeira pobreza?

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