No início do século (2002), o top 50 no Ranking das Escolas era liderado maioritariamente por escolas públicas. Duas décadas depois (2022), apenas 5 escolas públicas fazem parte das 50 escolas nacionais com melhores médias. A metodologia aplicada por cada órgão de comunicação social na publicação dos rankings difere. No entanto, a tendência das últimas duas décadas, de maior concentração de escolas privadas nos lugares cimeiros, é transversal.
No ranking de 2022 há apenas uma escola pública nos 45 primeiros lugares da lista, a Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga. De acordo com o Jornal Público, em 2010 (quando no top 50 só restavam 13 escolas públicas), os principais fatores justificativos assinalados pelos professores para os piores resultados das escolas públicas, eram “a instabilidade nas escolas, a reforma antecipada dos professores com mais experiência, a avaliação do desempenho dos docentes, a burocracia em que se encontram mergulhados e a falta de expectativas dos alunos”. Adicionalmente, “mais autonomia para trabalhar” era um dos principais apelos. Fatores estes que, em grande medida, parecem manter-se ou até ter-se agravado.
Entre as 50 escolas mais bem classificadas no ranking, 36 localizam-se nos distritos de Lisboa ou do Porto (72%). Se acrescentarmos as 7 escolas dos distritos de Braga e Setúbal a percentagem sobe para quase 90%. As restantes 7 escolas dispersam-se pelos distritos de Coimbra (3), Aveiro (2), Viana do Castelo (1) e Viseu (1).
Estes rankings não devem ser analisados cegamente. Existem contextos socioeconómicos que influenciam, em boa medida, os resultados aqui explanados. Escolas em contextos geográficos mais pobres têm, tendencialmente, resultados piores, e vice-versa. Isso deve-se maioritariamente ao impacto que esse contexto tem nas crianças, e não tanto à qualidade da escola e dos seus docentes, mas os dois efeitos são difíceis de dissociar. Ainda assim, há algo relevante que se retira destes números. Um ranking dominado pelas escolas privadas revela um sistema de ensino cada vez mais polarizado, onde quem tem condições financeiras coloca os seus filhos nos colégios privados (que além de habitualmente terem melhores instalações e mais opções extracurriculares, não estão tão sujeitos aos problemas de ausência de professores que têm sido frequentes no ensino público), enquanto os outros não têm escolha, e frequentam a escola pública da sua área de residência. Longe vão os tempos em que as escolas públicas eram também um lugar de ampla diversidade de alunos, de contextos diferentes, algo profundamente enriquecedor para todos. Nos concelhos com maior oferta privada, esta situação é cada vez menos frequente. Se o contexto à nascença traça quase por completo o nosso futuro, desde cedo, inclusive naqueles que serão os nossos colegas de escola, o elevador social está profundamente avariado.