2022 foi um ano marcado pelo início de uma guerra no espaço europeu, uma elevada inflação e, consequentemente, medidas governamentais e dos bancos centrais que têm tendo mitigar estes impactos (como o aumento das taxas de juro; nem sempre com muito sucesso).
O montante da carga fiscal cresceu mais do triplo do Produto Interno Bruto (PIB) e do salário médio bruto em Portugal, desde 2010. Em pouco mais de uma década, em termos reais, enquanto que o PIB apenas cresceu 10% e o salário médio bruto apenas 8%, a carga fiscal cresceu 32%.
Normalizando os 3 indicadores com 2010=100, facilmente se percebe o crescimento muito mais rápido da carga fiscal relativamente ao PIB e rendimentos. A análise também permite verificar que o diferencial entre a carga fiscal e os restantes 2 indicadores tem crescido progressivamente (apenas em 3 anos o PIB cresceu mais do que a carga fiscal) mas que há 2 períodos em que a carga fiscal cresceu a um ritmo muito mais elevado do que o PIB e os salários. Entre 2011 e 2013, período marcado pela grave crise económica que levou à intervenção da Troika (em parte desse período PIB, em maior escala, e carga fiscal e rendimentos, em menor escala, estiveram em queda), e em 2022.
No último ano, apesar do elevado crescimento do PIB (6,7% em termos reais), após recuperação da crise pandémica, a carga fiscal cresceu ainda mais (10,0%) e o rendimento médio líquido não aumentou. Consequentemente, a carga fiscal em percentagem do PIB aumentou para 36,4% em 2022 (35,3% no ano anterior). Trata-se da maior carga fiscal em percentagem do PIB desde que há registos.
Os números demonstram que o contexto económico atual não tem afetado todos por igual. Os portugueses viram o seu poder de compra estagnado ou reduzido em 2022, enquanto o Estado arrecadou um valor recorde de receita fiscal.