Licenciada em Microbiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e doutorada em Engenharia Química e Biológica pela Universidade do Minho, Catarina Milho dividia a sua vida entre Braga e o Porto quando se candidatou a uma vaga no AquaValor, instalado em Chaves, no distrito de Vila Real.
Desde setembro de 2020 no Alto Tâmega, a investigadora garante à agência Lusa que não está arrependida pela mudança para o interior do país, apesar das diferenças sentidas.
“Chaves é uma cidade pequena, mas neste momento já não tenho ambição de viver numa cidade tão grande como Lisboa ou Porto. O trânsito é muito diferente, em Lisboa perdia uma hora e meia no trânsito e em Braga para ir para o Porto também. O stress do trânsito tira-nos anos de vida. Aqui, em Chaves, em cinco minutos estamos onde queremos”, conta Catarina Milho, de 35 anos.
A investigadora lamenta, no entanto, que se tenha mudado para Trás-os-Montes em plena pandemia, o que ainda “não permitiu explorar tudo o que a cidade tem para dar”.
“Gosto muito da cidade, temos tudo. Apesar de não existir um grande centro comercial na cidade, as lojas de rua compensam, não nos falta nada. Até agora, não tenho qualquer tipo de arrependimento por me ter mudado para Chaves”, garante a investigadora que está a estudar o hidrogenoma das águas termais para perceber “a origem das propriedades terapêuticas destas águas”.
Mas o AquaValor está também a permitir o regresso à região de quem apostou na vida académica.
Natural de Faro, após passar toda a infância e adolescência em Chaves, Pedro Moreira regressou com a sua família à sua terra graças ao AquaValor.
Licenciado em Biomedicina pela Universidade de Faro e com mestrado feito em Braga, Pedro Moreira trabalhava num laboratório de águas no Porto e dividia a vida também por Braga quando decidiu regressar ao Alto Tâmega, juntamente com o seu filho e mulher.
Para Pedro Moreira, este regresso é “num contexto diferente”, numa altura que dá mais valor à região e à qualidade de vida que proporciona.
“Meu filho veio com um ano e pouco. Em Braga acordava às 06:00, o que lhe custava embora fosse bebé. Em Chaves foi para um infantário e foi um choque pois não estava habituado, mas teve um desenvolvimento saudável. Está perto da família, os meus pais e sogros estão cá. O facto de conseguir contactar com a natureza é muito saudável para ele”, salienta o investigador de 34 anos.
Já Rafaela Guimarães, natural de Mogadouro, no distrito de Bragança, estava no Brasil quando resolveu candidatar-se ao AquaValor e regressar a Trás-os-Montes.
“O Aquavalor foi uma grande oportunidade de voltar às ‘raízes’. Estive no Brasil, tentei lá uma oportunidade, mas não foi muito fácil, surgiram alguns obstáculos burocráticos e pessoais e resolvi voltar para Portugal. Vi a candidatura e decidi concorrer visto que poderia ser uma mais-valia para o projeto”, confessa.
A transmontana é licenciada em Fitoquímica e Fitofarmacologia no Instituto Politécnico de Bragança, onde fez o mestrado em Biotecnologia. Na Universidade do Minho fez o doutoramento em Ciências – Especialidade em química.
Rafaela Guimarães, que irá investigar o desenvolvimento de alimentos, funcionais e nutracêuticos, tentando perceber “se o uso das águas minerais naturais num alimento aumenta as suas características organoléticas e/ou nutricionais”, destaca ainda a importância do projeto numa região por vezes “muito esquecida”.
“Nunca ninguém quer vir para aqui, as pessoas acham que não tem nada, porque estão habitados a centros comerciais e confusão, mas esquecem-se que é aqui que existe qualidade de vida”, garante.
O AquaValor viu recentemente ser-lhe atribuído o título de Laboratório Colaborativo (CoLAB) especializado na área temática da água pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e tem a inauguração oficial marcada para 28 de abril.
Além de centrar a investigação em torno da água, este CCTT fundado em 2018 pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Tâmega, que engloba os concelhos de Chaves, Boticas, Valpaços, Montalegre, Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena, e o Instituto Politécnico de Bragança, está a trabalhar ainda sobre os recursos endógenos da região, como o fruto seco, vinho, azeite, enchidos ou cabrito.
Aos nove investigadores já instalados na região, vão juntar-se mais cinco, após ter fechado mais um concurso que recebeu 200 candidaturas.
O diretor executivo do AquaValor e secretário-geral da CIM Alto Tâmega, Ramiro Gonçalves, realçou à Lusa que “o Alto Tâmega tem uma localização muito apelativa em termos de investigação” o que permite “atrair investigadores, pois estes procuram qualidade de vida, ambiente, segurança e um local onde possam ter a sua família”.
Por seu lado, a diretora executiva do AquaValor, Maria José Alves, salienta que “o grande desafio [do projeto] é a transferência do conhecimento para o tecido empresarial”.
“Perspetivamos criar sinergias entre o setor da água termal e os setores da saúde, cosmética, indústria alimentar ou turismo, com base em recursos endógenos, multiplicando o seu impacto na economia regional e nacional, e trabalhando na sua internacionalização”, atira, lembrando que esta área demorará mais tempo a ter resultados visíveis.
O AquaValor irá ainda prestar serviços a diferentes entidades privadas, como na área das análises laboratoriais, onde terá “o objetivo de ser competitivo e gerar valor”.