Domingo, 3 de Novembro de 2024
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Agostinho Chaves
Agostinho Chaves
Trata o jornalismo por tu. Colabora com a VTM há mais de 25 anos. Foi Diretor entre 2014 e 2019. Passou por meios de comunicação nacionais, como o Comércio do Porto e a Rádio Renascença.

As expectativas de um novo ano

Saímos de 2016 da mesma forma com que entrámos nele: com elevadas expectativas. As nossas expectativas são sinal dos nossos desejos e, como tal, do nosso otimismo.

Entramos em 2017 com as mesmas expectativas de sempre. É por isso que, todos os anos, desejamos um “feliz ano novo” ou “um ano novo muito próspero”. No entanto, nos últimos anos, há muita gente que prefere dizer e escrever “um ano novo melhor do que o anterior”, o que, à partida, deixa antever que o que passou não terá sido totalmente positivo.

O ano de 2016 (que retratrámos na anterior edição de “A Voz de Trás-os-Montes”, em síntese mas pormenorizadamente, ao melhor nível dos balanços que é habitual fazer-se em várias latitudes) foi, notoriamente, um ano “diferente”. Mal seria se o não fosse.

Mas o grande óbice que já se arrasta desde há uns anos a esta parte é o da prevalência de intenções e interesses, valores, engenharias e habilidades, obcessões e nervosismo, crispação, sinais e alertas, tentativas, fugas e recuos, estudos, tabelas e gráficos, improvisações, experiências no mundo financeiro, com o défice na linha da frente das nossas preocupações, além da realidade tremenda da injustiça que reina no mundo e de que as manchetes dos jornais e as notícias de abertura dos telejornais nos deram conta: um por cento de pessoas possuindo mais do que os restantes noventa e nove por cento, um só capitalista usufruir de uma reforma que, só por si, daria para sustentar uma entidade de apoio social durante dezassete anos, haver gente que aufere de subvenções vitalícias enquanto uma larga franja de pessoas não consegue viver dignamente com uma reforma de menos de quinhentos euros.

Os valores sociais estão a ser deliberadamente ofuscados por estas maquinações emergentes dos valores monetários. Os valores do trabalho são diminuídos perante os valores cada vez mais curtos dos apêndices salariais. Soubemos em 2016 que há médicos e professores a trabalhar sem salário e que, face a isso, os responsáveis dizem ser tal facto “absolutamente normal”. No balanço que fazemos hoje para a região transmontana atentemos sobretudo nos sucessos das nossas terras, das escolas, da investigação científica, nas nossas práticas de convivência.

O túnel do Marão foi construído para que a dicotomia entre regiões distintas (o interior e o litoral) desapareça, harmonizando as relações de quem vive para além dos montes ou junto das praias.

Que quem nos lê e apoia tenha um bom 2017. Ainda melhor que o ano de 2016.

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