O caso da criança de Mirandela fez emergir um conjunto de preocupações quanto à necessidade constante de interacção entre os diversos órgãos da escola, alunos, pais e encarregados de educação. José Carlos Laranjo, presidente da União das Associações de Pais das Escolas do Concelho de Vila Real, abordou este tema e referiu a importância do papel dos pais na prevenção da violência, mais recentemente no aparecimento do ‘bullying’.
“Esta questão da violência, da indisciplina, da falta de motivação dos pais para a vida escolar, é o nosso dia-a-dia. É um desafio que sabemos que não é fácil. Em qualquer reunião, o que constatamos é para aquele dia, àquela hora, os pais têm sempre outra coisa para fazer e não vêm. Torna-se muito complicado trabalhar desta forma. Felizmente, não é uma realidade que seja muito referenciada nos nossos conselhos de turma. Há uma ou outra situação de mau comportamento, mas apenas em situações pontuais”. José Carlos Laranjo garantiu que, nas escolas de Vila Real, ainda há uma boa vivência. “Na generalidade, nas nossas escolas, em Vila Real, existe um bom ambiente escolar”.
A União da Associação de Pais do Concelho de Vila Real vai introduzir a questão do ‘bullying’ em acções que irá realizar com os seus associados. “De facto, vamos introduzir esta temática. Nós não ouvimos, não sabemos, mas não quer dizer que não exista, é uma situação que muitas vezes é guardada pelo miúdo que tem vergonha e medo de despoletar outras situações piores para ele. Há um quadro de sintomatologia que explica isto”. Este responsável realçou a necessidade de uma maior mobilização dos pais para a comparência em reuniões para se atingir o sucesso educativo. “Temos procurado estratégias para trazer os pais à escola. A maioria não está consciente da importância, do relevo que os pais têm hoje na vida da escola. Mas, tem sido muito complicado passar esta mensagem. A questão é esta, uma escola que tem um movimento associativo de pais, activo, dinâmico, é uma escola com um projecto educativo melhor, e os próprios pais acabam por beneficiar com isso. Desta relação com a escola, surge depois uma outra resposta, uma outra dinâmica em casa”.
O presidente da UAPVR realçou o papel relevante do conselho de turma como forma de sentir o eco de alguma anormalidade. “É sempre importante os nossos pais (representantes) participarem nos conselhos de turma. Porque é aí que se fala mais, é um dos órgãos mais importantes da escola, naquilo que directamente diz respeito aos pais na relação dos filhos”.
Por fim, confrontado com a situação de Mirandela, José Carlos Laranjo disse “não ter muito conhecimento sobre o caso”, mas levantou uma série de interrogações: “será que o conselho de turma não detectou estas situações? Porque, em algumas acções, onde tenho participado, há um quadro psicológico emergente por parte do aluno que leva à suspeita deste tipo de situações. Também não sei se a Escola de Mirandela tem esse serviço de psicologia. Os psicólogos têm cada vez mais uma função muito importante a desempenhar nas escolas, quer para estas questões de violência, quer no tratamento de situações que levam ao insucesso escolar. Um miúdo permanentemente pressionado por outros colegas, é um aluno que apresenta sintomas. Fico espantado como é que os professores não se tenham apercebido disto. É uma situação que me surpreende”.
O Nosso Jornal manteve contactos com algumas escolas da cidade que revelaram que o ‘bullying’ ainda não é uma realidade evidente.
Georgina Cruz, vice-presidente do Conselho Executivo da Escola de S. Pedro, reconhece que há situações de violência pontuais, mas não com a gravidade do ‘bulling’. “Porventura, há miúdos que se agridem no recreio e que brincam de uma maneira pouco civilizada, agora problemas muito graves, não tenho conhecimento”.
“Há algum tempo atrás, houve uma situação com alguma gravidade, mas tinha a ver com pressão psíquica, que rapidamente resolvemos e controlamos”. Segundo esta docente, quando se verifica algum incidente, os alunos “são chamados à atenção e poderão ser aplicadas medidas disciplinares, conforme a gravidade da situação”. “Quando ocorrem casos, os encarregados de educação são alertados e temos também uma psicóloga”.
Na escola Camilo de Castelo Branco, o cenário não é diferente. A presidente do Conselho Executivo, Fátima Rodrigues, referiu que existiram situações com alguma agressividade, mas, neste momento, são situações perfeitamente diagnosticadas. Os professores, pais e encarregados de educação contactam a escola e resolve-se o problema”.
Maria Alice Rocha, do Conselho Executivo da Escola Morgado de Mateus, sublinhou que agressões, entre alunos, existem sempre. “Por aquilo que se entende por ‘bulling’, penso que há sempre nas escolas. Há miúdos mais bruscos que, às vezes, se agridem sem sentido. Mas, não temos nenhum caso”.
Também no Agrupamento de Escolas Diogo Cão, a atenção sobre esta forma de violência é assumida. O seu presidente, José Maria Magalhães, admite a existência de casos. “Em todas as escolas há situações e não adianta estar a esconder o problema, que é real. Eu tenho a Escola nº 2 com muitos alunos de risco e é preciso uma actuação constante, disciplinada para ganhar esta luta. Agora, nós atempadamente não deixamos que as coisas cresçam, tudo tem sido controlado. Para o efeito, temos gabinetes de apoio ao aluno e não deixamos passar as situações. Mas, é bom que se diga que precisamos de vigilantes e auxiliares de acção educativa porque os alunos estão muito tempo na escola e há uma maior convivência”.
No Agrupamento de Escolas Monsenhor Jerónimo Amaral, a questão parece pacifica. O presidente, António Carvalho, admitiu que “por vezes, existem pequenos indícios que possam alertar para este género de violência, mas, juntamente, com os pais dos alunos e professores acompanham as várias situações e fica tudo resolvido”. Desde o início, que é preocupação desta escola manter uma estreita colaboração com todos os agentes educativos, de forma a controlar qualquer situação que surja”, concluiu.
O perfil da vítima
Crianças obesas, com uma qualquer dificuldade de expressão (por exemplo, gaguez), com tiques, timidez ou demasiado extrovertidos, que usam óculos… ou seja, crianças que de alguma forma fogem aos padrões normativos. Essas são as principais vítimas do Bullying.
Assim sendo, caso identifiquem nos filhos alguma destas características, aconselha-se aos pais que estejam atentos a sinais/sintomas de alerta. Se o seu filho é muitas vezes alvo de brincadeiras de mau gosto, tem alguma alcunha um pouco “maldosa”, ultimamente recusa-se a ir à escola sem um motivo aparente, perde coisas, ou mesmo dinheiro, sem justificação, não tem amigos, está mais sensível às brincadeiras e reage agressivamente ou chora incontrolavelmente, chame a atenção dos professores, identifique a situação e marque uma reunião com os pais do agressor, pedindo-lhes ajuda para a resolução do problema.
Tanto a vítima de Bullying como o agressor deverão ser alvo de um acompanhamento psicológico.