Os custos aumentaram, segundo apontam empresas destes setores contactadas pela agência Lusa, em consequência da pandemia de covid-19 e, mais recentemente, da guerra no Leste Europeu.
“A nível da rotulagem o aumento dos custos tem uma variação entre 45 e 55%, dependendo das referências”, afirmou Alexandre Araújo, diretor executivo (CEO) da ADARME, uma agência de comunicação especializada no design gráfico, design de etiquetas e embalagens localizada no Peso da Régua, na região do Douro.
O responsável apontou também a “escassez de alguns tipos de papel”, o que obrigou clientes a alterar a memória descritiva de produção dos rótulos, optando por outro tipo de papel, e salientou que, neste momento, “não há previsibilidade” no negócio, já que os preços podem mudar de um dia para o outro.
“Em algumas dinâmicas comerciais a questão que se coloca já não é o preço, mas garantir matéria-prima nos fornecedores. Está um caos”, referiu.
Por mês, a ADARME fornece cerca de 40.000 rótulos com acabamentos nobres, de várias rubricas, e, desde o início do ano, produziu 1.200 caixas de cartão duro (caixas gourmet/prestígio) para as garrafas de vinho, como a recente edição do vinho do Porto comemorativo do centenário da diocese de Vila Real.
Uma edição que, segundo Alexandre Araújo, esteve mesmo “em risco”, tendo sido conseguidos apenas “alguns exemplares”.
A Voz de Trás-os-Montes tem uma tiragem de cerca de 4.500 exemplares por semana.
“Na compra de papel os custos que se refletem para nós mais do que duplicaram”, afirmou o diretor João Vilela.
Neste caso, explicou, também porque a principal fábrica de pasta de papel para jornal, localizada na Finlândia, está parada desde janeiro por greve dos trabalhadores.
A gráfica com que este jornal trabalha, segundo João Vilela, disse ter a garantia de fornecimento de papel de jornal até junho, mas depois “é muito incerto e depende da evolução do conflito na Ucrânia”.
A seguir às despesas com os colaboradores, a impressão representa o maior custo para este semanário de implantação regional. Em janeiro foi feito “um ajuste” no preço de capa e no valor das assinaturas e, entretanto, segundo o responsável, já houve “três aumentos do papel”.
“Nós não temos, neste momento, margem para aumentar mais o preço de capa e de assinatura, porque seria insustentável para o nosso mercado que já é diminuto”, salientou, acrescentando que “é uma machadada no jornalismo do ponto de vista global, mas no papel particularmente”.
As contas são cada vez mais difíceis de fazer para a imprensa regional, principalmente no Interior do país, com refere Filipe Ribeiro, representante da Associação Nacional de Imprensa Regional e de dois jornais locais, o Notícias de Vila Real e o Notícias de Aguiar.
“O Interior não tem um tecido empresarial muito desenvolvido, há pouca indústria e pouca capacidade de investir em publicidade ou ‘merchandising’, e a distribuição dos CTT torna-se mais difícil nestes territórios, porque as populações estão dispersas e fazem-se muitos quilómetros para chegar a uma determinada aldeia”, explicou, referindo que, no caso dos seus jornais, a opção tem sido não mexer no preço por exemplar e de assinatura, no entanto, “esse valor vai ser agora avaliado, em consequência dos aumentos”.