Foi um estudo que teve início há três anos e pode culminar em 2011, com a entrada do projecto na União Europeia, Bruxelas. Já no próximo ano se deverá chegar à certificação, sendo que ainda é necessário levar a cabo um conjunto de acções, nomeadamente ao nível das recolhas de azeite, análises e especificação técnica. Depois, partir-se-á para o encontro da homogeneidade e delimitação das fronteiras (entre a DOP Trás-os-Montes e a zona do Douro). Tudo isto para certificar azeite “Douro”.
António Branco, presidente da Associação de Olivicultores de Trás-os-Montes e Alto Douro, AOTAD, sedeada em Mirandela, pormenorizou o projecto ao Nosso Jornal, e caracterizou a actual situação da produção olivícola no Douro. “Tudo isto resulta de uma opção comercial. As características do azeite de Trás-os-Montes e do azeite do Douro não são iguais, uma vez que são dois produtos de qualidade mas de regiões diferentes. Assim, hoje existe a necessidade da região do Douro ter uma marca de qualidade, que passa pela certificação dos seus azeites”. A implementação do “Azeite do Douro DOP” tem outras vantagens. “O Douro é uma marca muito competitiva ao nível dos seus vinhos, mas o olival é efectivamente o elemento complementar desse sector. É nesse sentido que nós queremos responder aos empresários locais ligados ao conceito ‘quinta’, para que eles possam ter uma marca de qualidade de todos os seus produtos, nomeadamente o vinho, o azeite, o queijo, entre outros”.
O “mapa” proposto pela AOTAD já tem um esboço geográfico que passa pelas manchas de produção de olival. “A DOP tem que estar associada ao olival, mas em princípio estamos a falar da mancha do Douro mais típica, mais ou menos coincidente com a mancha que conhecemos como Alto Douro Vinhateiro, ou seja, desde Barqueiros a Barca D’Alva”. A certificação dos azeites do Douro será, sem dúvida, uma mais-valia para o consumidor e para o produtor. “No futuro, quando comprarmos uma garrafa de azeite Douro DOP, assim como compramos hoje uma garrafa de azeite de Trás-os-Montes DOP, sabemos que dentro da garrafa vai um produto que é certificado, que foi sujeito a análises, que teve um estudo organoléptico, que é efectivamente produzido naquela região”.
A valorização do produto em termos de mercado é outra preocupação da AOTAD. “Hoje em dia, o Douro, independentemente do potencial turístico que tem pela sua paisagem, também possui um potencial económico muito grande, ligado ao vinho do Porto e ao vinho de consumo. O vinho também já é DOP e o facto de nós criarmos uma marca de qualidade no azeite é igualmente uma garantia de certificação”.
A AOTAD já tem 16 associados na área do Douro, como produtores/embaladores. “Noventa e nove por cento dos lagares do Douro, desde Resende até Barca D’Alva, são nossos associados, prestamos-lhes assistência”, garantiu António Branco.
O presidente da AOTAD reconheceu constrangimentos na região duriense quanto aos processos de produção. “No Douro, a questão das produções, como ainda não há DOP, ainda são residuais, porque os olivicultores durienses não conseguem tirar a mais-valia económica da sua exploração. O olival no Douro tem imensos custos, na apanha, na transformação. Talvez esteja um pouquinho mais atrasado, ao nível das boas práticas de elaboração e transformação da azeitona em azeite. Surge, assim, a nossa ideia de fazer um forte investimento tecnológico nos lagares. O Douro produz excelentes azeitonas, o problema é, depois de as apanhar, o processo de extracção e o processo de conservação, quer da azeitona quer do azeite. Pretende-se evoluir no azeite conforme se evoluiu nos vinhos nos últimos 10 anos”.
António Branco manifestou uma expectativa muito elevada para a região duriense, avançando números que confirmam a sua óptica. “Neste momento, em Trás-os-Montes, temos cerca de 80 produtores/embaladores, com DOP temos cerca 40. Quanto ao Douro, a nossa expectativa, tendo em conta as características territoriais, é de ultrapassar facilmente os 40”.
A AOTAD está a fazer um varrimento geográfico olivícola, ou seja, a reordenar áreas para harmonizar as duas DOP. “Na elaboração da área de produção azeite ‘Douro’ poderá haver sobreposição de territórios com a DOP Trás-os-Montes. Assim sendo iremos alargar esta zona a Valpaços e a Bragança, onde algumas áreas não estão incluídas”.
Por fim, António Branco deixou um conselho útil e pertinente aos nossos leitores, que tem a ver com os diferentes tipos de azeite que consumimos. “É preciso desmistificar o conceito de que quando saboreamos um azeite amargo e picante, temos tendência para o rotularmos de uma forma negativa. Contudo, são apenas características e não defeitos. Aliás, a acidez não se sente, apura-se tecnologicamente”.
Diferenças entre o azeite duriense e o transmontano
O dirigente da AOTAD, Francisco Pavão, especificou as diferenças organolépticas do azeite que existe entre as duas regiões vizinhas. “São muitas ao nível das variedades de oliveira. Em Trás-os-Montes, as oliveiras são marcadamente diferentes das do Douro, onde ainda existem muitos olivais centenários, e isto é um grande contraste.
Do ponto de vista sensorial, os azeites de Trás-os-Montes são mais frescos, mais verdes, enquanto os do Douro, na boca, apresentam-se mais amendoados e mais secos, sensações que têm a ver com o “terroir” (solo). Basicamente são estas as diferenças.
Este ano vamos já fazer colheitas em vários pontos da região para podermos caracterizar química e sensorialmente os azeites. Depois iremos ver efectivamente as diferenças que existem”.