Antes de escrever as cartas, andei milhares de Kms pelas terras em redor do mar Mediterrâneo para anunciar Jesus de Nazaré. No meu tempo, as estradas romanas eram rodeadas de ladrões tanto nas estradas como nas pousadas, e no mar acontecia o mesmo.
Dirigia-me sempre às cidades, não as aldeias, e por isso me chamam agora o «homem do asfalto». O vosso tempo é parecido com o meu: hoje o povo foge para a cidade, e, mesmo nas aldeias, bebem-se as ideias da cidade. Por isso, se não evangelizardes as cidades, as coisas irão mal no futuro. Peço-vos que vos prepareis para serdes cristãos na cidade, nas escolas, na política, nas Universidades, nas empresas, nos jornais, na rádio, na televisão. É indispensável ter cultura para entender e destrinçar as ideias modernas. A mim ela fez-me muito jeito para falar com gregos e romanos, com as autoridades militares e governadores, para entender melhor o Antigo Testamento e falar aos judeus, e para escrever.
As cartas custaram-me tempo e dinheiro. Cada uma delas levou mais de uma semana a escrever e depois foi preciso escolher um portador, homem ou mulher, corajosos e cautelosos. Na altura não imaginava que iriam guardá-las e fazê-las chegar até vós. Deus encarregou-se disso.
Queria dizer-vos que muitas das coisas de que falo nas minhas cartas, continuam a existir entre vós. Por exemplo: como os filósofos de Atenas, há homens palradores acerca da religião, mas sem se converterem ao Evangelho; como os Gálatas da Turquia, há pessoas algo desconfiadas da pregação e capazes de virar a casaca; como os Coríntios, há quem misture a paixão pelos jogos com a paixão pelas mulheres de Corinto e pelas seitas; como em Éfeso, há mulheres ambiciosas de liderança, muita religião individualista e gente interessada no comércio das coisas religiosas; como os Colossenses, há os amigos dos anjos, do bruxedo, dos horóscopos, dos espíritos, e desinteressados de Jesus; como os Hebreus, há os saudosistas da Lei de Moisés, do sangue e do sábado; como os Romanos, há os orgulhosos da cidade, da cultura e das leis, mas vivendo à custa de negócios fraudulentos; como os Tessalonissenses, alguns vivem assustados com o fim do mundo e preguiçosos; e há quem ainda viva à maneira de Filémon, na escravidão do dinheiro, da droga, do álcool e da vida nocturna. Cheguei a meter-lhe uma cunha para salvar um desses escravos. Também conheci gente agradecida e alegre como os Filipenses que se interessaram por mim, e preocupei-me em preparar homens para me sucederem, como Tito de raça gentia, e outros da raça judia como Timóteo.
Tive desavenças com amigos como Barnabé e João Marcos por causa do nosso feitio. Separamo-nos em dois grupos e fomos para terras diferentes, mas mantivemo-nos sempre amigos e hoje vivemos juntos.
Tenho de me ir embora. Esta espada que colocaram na minha estátua em Roma, não é por eu ser terrorista, mas por ter sido morto à espaço e sobretudo por eu ser pregador, o homem da Palavra de Deus que corta como uma espada afiada dos dois lados. Peço-vos que aos Domingos procureis reunir-vos para celebrar a Páscoa de Jesus e façais reuniões para vos instruirdes. A partir de agora, percebereis melhor as minhas cartas que o padre vos explicará. Se durante a homilia o padre da vossa terra vos causar sono, sabei que isso me aconteceu a mim uma vez em Tróade: durante uma celebração no segundo andar de uma casa, prolonguei o discurso pela noite dentro e causei o sono a um rapaz que estava sentado numa janela e acabou por cair à rua. Mas tudo se recompôs em nome de Jesus.
Ficarei muito contente se souber que algum de vós se apaixonou por Jesus e resolveu segui-Lo. Não tenhais medo: é uma grande aventura.
Meus amigos, à maneira romana, «Valéte», e à maneira judaica, «Shalom»
Paulo de Tarso