Terça-feira, 10 de Dezembro de 2024
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Casamentos e filhos

1 – Os dados do Instituto Nacional de Estatística relativos a 2008 referem que no distrito de Vila Real (coincidente com a diocese) os nascimentos desceram em todos os concelhos e vêm a aumentar os filhos nascidos fora do matrimónio.

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Os números estão assim distribuídos, colocando os segundos entre parêntesis: Alijó, 59 (12); Boticas, 28 (8); Chaves, 272 (75); Mesão Frio, 34 (8); Mondim de Basto, 59 (12); Montalegre, 41 (13); Murça, 35 (9); Peso da Régua, 117 (31); Ribeira de Pena, 56 (15); Sabrosa, 57 (17); Santa Marta de Penaguião, 51 (13); Valpaços, 108 (32); Vila Pouca de Aguiar, 71 (14); Vila Real, 476 (103). Total 1.489 (375).

Por sua vez, os casamentos civis aumentaram, sendo em maior número que os católicos em oito concelhos, igual nos concelhos de Mesão Frio e Murça, e inferiores em Mondim de Basto, Santa Marta de Penaguião e Vila Real. Distribuem-se assim: Alijó 22 e 23; Boticas 14 e 30; Chaves 96 e 160; Mesão Frio 11 e 11; Mondim de Basto 26 e 18; Montalegre 14 e 21; Murça 16 e16; Peso da Régua 40 e 46; Ribeira de Pena 13 e 19; Sabrosa 10 e 17; Santa Marta de Penaguião 16 e 9; Valpaços 32 e 45; Vila Pouca de Aguiar 25 e 30; Vila Real 159 e 104. Total 494 e 549.

2 – A leitura sociológica destes números oferece algumas dificuldades. Quanto aos filhos nascidos fora do casamento, não se sabe se vêm de mães solteiras, se de pais solteiros que casaram depois, facto que não altera o registo inicial, ou se vêm das uniões de facto estáveis (onde ao menos há um pai e uma mãe unidos).

De qualquer modo, estes números alertam para a desordem que reina na sociedade e que parece ir agravar–se com a crescente desvalorização do casamento em Portugal. Há em tudo isto um dado positivo: a coragem das mães solteiras que, sozinhas, levaram até ao fim a geração dos filhos, apesar das facilidades legais oferecidas para o aborto.

Quanto aos casamentos, há uma série de perguntas a formular já aqui lembradas noutro texto: se os casamentos civis foram seguidos de casamento católico (mudança que altera o número de casamentos civis mas que nunca consta da estatística), se esses casamentos civis foram mero expediente para resolver outros problemas e não deram origem a vida familiar, e se esses casamentos foram construídos por noivos solteiros ou por divorciados que não tinham outra hipótese de casamento.

Seja como for, os números acentuam a desvalorização do casamento entre nós nos últimos anos. Efectivamente, o casamento perdeu, primeiro, a marca religiosa de um projecto de vida vivido em comunhão com Deus criador e imagem do amor de Cristo pela Igreja e passou a ser mero contrato civil de pessoas e bens, mas estável; perdeu depois esse estatuto de comunhão de vida civil estável para o estatuto de união afectiva dissolúvel pelo divórcio, e onde a hipótese dos filhos é mais remota por constituir impedimento à separação; a seguir a união perdeu o registo civil e passa a mera união privada ou união de facto sem qualquer registo; e, ultimamente, inventou-se o casamento de homens e de mulheres, sem esposa ou sem marido!

Acerca do nascimento das crianças, elas seguem o fado da desvalorização do casamento: a criança transforma-se no maior obstáculo ao divórcio, dificulta o emprego dos casados, dificulta o novo casamento do homem e sobretudo da mulher divorciados, dificulta a libertinagem de costumes. Como o prazer sexual passou a ocupar o centro da relação entre homem mulher, crescem inevitavelmente a prostituição genérica ou seleccionada e ma panóplia de meios que permitam o prazer sexual sem geração: os anticonceptivos, as drogas abortivas ditas do dia seguinte cada vez mais alargadas e destruidoras dos jovens, e a legalização do aborto. Neste contexto, sente-se a necessidade urgente de uma informação sexual biológica dos adolescentes em idade escolar para travar o inevitável dilúvio de aventuras. É inevitável que apareça o medo de qualquer casamento, a designada “gamofobia”, e aumente o número de mulheres e homens solteiros ou «solteirões», uma vez que esse estado não foi uma verdadeira opção de vida, mas um beco sem saída.

3 – Os políticos do sistema político chamam a esta leitura pessimismo e «conservadorismo», e às suas aventuras legislativas “optimismo” e “progressismo”. Talvez um dia venhamos a falar disso com mais pormenor. Para já, basta lembrar que esses termos não pertencem à linguagem científica, mas à luta política ideológica, pois a pergunta científica é saber que valores se defendem e mantêm ou que novos valores se deseja implantar. Só depois disso é que se sabe se há verdadeiro progresso ou aventureirismo, se há conservadorismo positivo ou negativo. Sem definir os valores em causa, as palavras conservador ou progressista são como o guarda-chuva que pode ser guarda-sol ou mero adorno de passeio.

Sempre que fala da família, como aconteceu no final de Dezembro, Bento XVI apresenta uma série de princípios fundamentais da família natural, sem grandes gestos nem comentários secundários, e com o encanto interior de quem sabe que eles são pontos de chegada de um longo percurso civilizacional e especulativo. Só quem conhecer o drama antropológico e cultural de tantos problemas humanos será capaz de compreender a coragem e a alegria do Papa ao repetir aqueles princípios que respondem a tais problemas: a família nasce do casamento de um homem e de uma mulher, essa união é religiosamente imagem do próprio Deus no mistério da sua unidade e trindade de pessoas, e sinal do amor de Cristo pela sua Igreja, o casamento requer por sua natureza a estabilidade para permitir desenvolver os sentimentos humanos mais profundos do homem e da mulher, o casamento orienta-se para a vida tal como é sugerido pelo próprio corpo do homem e da mulher, a família transmite a fé e os valores aos filhos pelas atitudes diárias dos pais diante dos filhos nas circunstâncias mais diversas e não por conselhos académicos e receitas intelectuais.

Qual a necessidade desta insistência, perguntar-se-á? – Por causa do desprezo pela filosofia da natureza hoje reinante em muita gente e por causa da pressão ideológica que é exercida na sociedade actual pela luta política e pelos massa media nas suas variadas manifestações: programas televisivos, radiofónicos e literários, divertimentos e desabafos de cançonetistas, de artistas e escritores, cujas opiniões formam uma espécie de opinião geral inconsciente interiorizada sem espírito crítico. À força de se ouvirem esses desabafos, oriundos de gente «famosa» ainda que sem especial autoridade científica ou cultural, esses ditos e atitudes, que academicamente ninguém aceitaria, passam a ser regra e norma de conduta por imposição sociológica. Isso agrava-se quando é chamado a comentar estes comportamentos um sociólogo que transforma os factos sociais em normas éticas, ultrapassando a Sociologia.

Chegou-se a um tipo de cultura onde os únicos argumentos são «o que se usa», «o que todos fazem», «o que já está em uso na Europa», e «o que é» toma-se como «o que deve ser». Perante essa mentalidade diluviana de sentimentos, a reflexão científica tem dificuldade em se impor, precisa de ser repetida, como faz Bento XVI. Têm aqui plena actualidade a educação epistemológica dos novos e os movimentos pastorais da pastoral da Família e do Noivado como as ENS (Equipas de Nossa Senhora) e o CPM (Centros de Preparação para o Matrimónio).

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