Não será de todo desacertado afirmar que existe, no Presidente da República, uma tendência que configura uma certa inaptidão para a política. É certo que ele sempre se definiu como um não-político, apesar de se encontrar, há mais de vinte anos, no seu epicentro. Daí que Cavaco – o homem político – possa ser considerado um paradoxo. Vejamos: foi ele o primeiro político que alcançou uma maioria absoluta, chegando mesmo, depois da primeira, à segunda. Isto depois de um estranho partido da década de oitenta – o PRD –, abençoado por Ramalho Eanes, ter destituído, com uma moção de censura, o governo minoritário social-democrata, liderado precisamente pelo actual Presidente da República. Depois disso, foi ganhador absoluto das eleições presidenciais (dez anos passados da derrota com Jorge Sampaio na sua primeira tentativa presidencialista), muito por causa dum silêncio estratégico que delineou durante o consulado deste último, mas também (sobretudo?) por uma separação conflituosa entre uma esquerda que (dizem) é socialmente maioritária em Portugal.
Convém também lembrar que Cavaco Silva apareceu na política num célebre congresso do PSD, ocorrido na Figueira da Foz, quando, segundo o próprio, o objectivo primeiro na sua deslocação à cidade, era fazer a rodagem ao carro acabadinho de comprar. Começou, portanto, a desenhar–se o sebastiânico homem do leme. Obviamente que este episódio, pitoresco, ficou nos anais políticos como uma não-verdade. Seria lá possível um homem, estranhamente desconhecido, sem biografia (Soares dixit), arrecadar assim um partido do marasmo que vivia num bloco central sufocante, sofrendo ainda um complexo de orfandade devido à morte do seu fundador, Francisco Sá Carneiro. No entanto, por vezes o homem político encontra-se terminantemente condicionado pelos acontecimentos que não consegue dominar.
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