“Houve uma grande evolução no sector e tivemos que nos adaptar, tivemos que ir ao encontro do consumidor final”, testemunhou Cesário Correia, proprietário da Pastelaria Serrana, em Vila Real, e um dos testemunhos da crise por que passa o sector da panificação a nível nacional.
O industrial vila-realense falou ao Nosso Jornal à margem de um seminário organizado pela Associação de Indústrias de Panificação, Pastelaria e Similares do Norte (AIPAN) que, realizado em Vila Real, representou o arranque de uma campanha que vai percorrer os vários distritos da Zona Norte com o intuito de “esclarecer, alertar para as obrigatoriedades legais e essencialmente para a importância do associativismo” e, ao mesmo, ajudar os industriais a fazer face à crise através da “valorização e credibilização do sector”.
“Não está a ser fácil reagir à crise”, explicou António Fontes, presidente da AIPAN, referindo que na base das maiores preocupações dos empresários do sector está, não o agravamento do preço das matérias-primas, mas sim, “a subida de 12 por cento na factura da energia, registada no início do ano”, e o aumento do IVA, que, “dentro de quatro ou cinco seis meses, vai ter reflexos que a maior parte dos industriais não imaginam”.
Apesar da crise, o presidente da AIPAN acredita que as dificuldades que as panificadoras passam não se vão reflectir no preço final do pão ao consumidor, “isso porque o negócio já está tão fragilizado que ninguém se atreve a corrigir preços”.
Segundo o mesmo responsável, apesar de não haver dados concretos, o cenário é mais grave no interior do país, havendo já registos pontuais de micro empresas, na sua maioria de estrutura familiar, que já encerraram as portas porque não terem sustentação financeira. “Algumas decidem encerrar por serem economicamente inviáveis”, explicou António Fontes, citando o testemunho de alguns associados.
Cesário Correia, proprietário da Padaria Serrana, empresa com mais de quatro décadas de experiência no sector da panificação, confirma que, à semelhança de vários sectores da economia portuguesa, também a produção de pão tem sofrido nos últimos anos. “Houve uma quebra de cerca de 10 por cento na produção nos últimos cinco anos”, contabilizou o empresário que, além das razões sobejamente conhecidas e que afectam vários sectores, referiu a “falta de interesse da juventude no consumo de pão”como uma das problemáticas.
“Tivemos que nos adaptar. Já não nos limitamos a vender apenas pão e pastelaria, entramos no ramo da restauração, servindo outros produtos, como por exemplo refeições rápidas”, explicou o empresário.
Produzindo hoje cerca de 10 mil unidades, a Serrana dedica-se cada vez menos à tradicional venda porta a porta, que 1966, quando a empresa nasceu, representava o principal modo de comercialização pão. “Tivemos de nos aproximar do consumidor final”, revelou Cesário Correia sobre a panificadora que hoje tem abertos, em Vila Real, dois estabelecimentos comercias.
Representando 700 associados num universo de cerca de 4000 empresas sedeadas na região Norte do país, a Associação que defende os interesses dos indústrias da panificação, vai, até ao final do ano, levar a campanha “A AIPAN cada vez mais perto de si” a mais cinco capitais de distrito, entre as quais Bragança, sendo de realçar que a próxima reunião, que ainda não tem data marcada, vai realizar-se em Aveiro.