Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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Cristão apaixonado ou rotineiro?

Há dias, no seu discurso à Cúria romana por ocasião das felicitações de natal, o Papa disse o seguinte: “É preciso coragem para caminhar, para ir mais longe.

29 É uma questão de amor. E é preciso coragem para amar. Gosto de recordar a reflexão dum zeloso sacerdote a propósito disto, mas que pode ajudar-nos também no nosso trabalho de Cúria. Diz ele que custa reanimar as brasas sob a cinza da Igreja. Hoje, a dificuldade é transmitir paixão a quem já há muito tempo a perdeu. À distância de 60 anos do Concílio, ainda se debate sobre a divisão entre «progressistas» e «conservadores», mas esta não é a diferença: a verdadeira diferença é entre «apaixonados» e «rotineiros». Esta é a diferença. Só quem ama, pode caminhar”.

As palavras foram para a Cúria, mas bem podem servir para toda a Igreja. Parafraseando Karl Rahner, que afirmou que “o cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão”, também poderemos dizer que “o cristão do século XXI ou é apaixonado ou não é cristão”. Aliás, mística e paixão andam muito próximas. Quanto mais se aprofunda a relação com Deus, tanto mais o cristão se torna apaixonado e marcante no mundo. Sem generalizar, como é óbvio, muitas comunidades cristãs enfermam por excesso de rotina e falta de paixão na vivência da fé e na presença cristã no mundo. Por vezes, até se vê reinar algum sonambulismo, o cumprir automaticamente práticas, ritos, costumes e tradições, possivelmente, sem qualquer vivência interior, uma repetição mecânica sem alma, sem chama, sem espírito, sem sede de se viver mais em cristo e ser mais Igreja, tudo feito sem grande entusiasmo e alegria. Pergunto-me constantemente sobre com que motivação muitos cristãos vão à Igreja, já nem falando da desmobilização que se vê nas comunidades, o desinteresse reinante, a pressa com que tudo se quer e se faz, o testemunho frouxo que se dá no dia a dia, a falta de ardor missionário.

De facto, a rotina é uma das doenças da Igreja e de muitos cristãos, meramente apegados a uma disciplina de vida e à fidelidade de meia dúzia de regras e leis, cristãos em lume brando, de serviços mínimos, mais preocupados com o legalismo e com a salvação da alma do que em transbordar vida e amor para os outros e para o mundo. É um bom objetivo para o próximo ano: seguir Jesus Cristo com mais paixão. Já lá vai o tempo do fiel cristão cumpridor. Temos de ser cristãos apaixonados, que se envolvem a sério, que dão tudo por aquilo em que acreditam e vivem-no a sério.

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