Domingo, 19 de Janeiro de 2025
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Barroso da Fonte
Barroso da Fonte
Escritor e Jornalista. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Cultura transmontana vive amordaçada pelos mass media

Nem com o maior índice de membros de governo por distrito, Trás-os-Montes consegue, para os seus autores e artistas, mais apreço para quem mais sofre para neutralizar o abismo da menorização dos seus naturais. Se há regiões do país que têm suportado os horrores da interioridade, Trás-os-Montes e Alto Douro sempre foi, e teima em ser, aquela que foi o coração do primitivo Condado Portucalense.

Quando Santana Lopes, na qualidade de Secretário de Estado, transferiu a Delegação Regional da Cultura Norte do Porto para Vila Real chegou a pensar-se que tal mudança seria o primeiro passo para a descentralização que urge concretizar. Já 25 anos volvidos tudo está como estava em 1994. Essa experiência não foi corroborada por outros serviços e a dispersão de serviços, sobretudo administrativos, não produziu resultados práticos porque tudo passa pelo Porto.

Em Vila Real e Bragança houve delegações da RTP que incrivelmente deixaram de dar sinal. Raramente é dada imagem e voz aos muitos e valorosos agentes culturais que se vão revelando em obras ao vivo, quer musicais, artesanais, literárias ou científicas. Quando se completavam 20 anos da transferência da delegação do Porto para Vila Real, David Carvalho, diretor artístico do Teatro Filandorra, lamentava que a companhia fosse estrear uma peça da autoria de um escritor reconhecido da região apenas com o apoio das autarquias locais. O assunto foi decidido em Lisboa, sem terem qualquer informação do que se passava na região. “Pergunto-me – confessa David Carvalho, – qual será a função do Diretor Regional da Cultura ou se o erro está em Lisboa, que não dá poder às delegações regionais” Concluía este diretor artístico: “as delegações regionais foram sendo esvaziadas de recursos humanos e logísticos. A atual sede não é um organismo vivo de ligação com os agentes culturais, só existe formalmente”.

Os distritos de Bragança e de Vila Real, tal como algumas casas regionais (Lisboa e Porto), mais a Academia de Letras de Trás-os-Montes e o Grupo Cultural Aquae Flaviae, têm-se revelado como núcleos vivos da verdadeira cultura, graças à notável capacidade artística dos seus agentes transmontanos. O Grémio Literário de Vila Real, a par da Academia de Letras de Trás-os-Montes, mais a Biblioteca Adriano Moreira e o Grupo Cultural Aquae Flaviae em torno da gradas personalidades, como Adriano Moreira, Hirondino Fernandes, João de Araújo Correia. Pouco antes partiram: Miguel Torga, Edgar Carneiro, António Cabral, Fernão de Magalhães Gonçalves.

Da Casa de Lisboa chegam os prémios Adriano Moreira para Manuel Veiga e João de Deus Rodrigues. Em novembro, no mesmo espaço cultural de Bragança, reaparecera “E eu a cuidar!…” do novo Abade de Baçal Hirondino Fernandes:

“São meia dúzia de contos em linguagem popular que se procura salvaguardar. “É um livro diferente, é um livro único, pois utiliza uma linguagem que hoje já não é usada normalmente no dia a dia, mas que vem retratar aqui muito daquilo que era as expressões e a forma como os transmontanos comunicavam há uns anos”. Mais uma obra do bem-disposto Hirondino Fernandes, no alto das suas 90 primaveras, referindo que o livro, que é uma edição do Município de Bragança, retrata várias histórias das décadas de 70 e 80 do “século anterior” já publicadas em jornais e revistas.

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