Se há duas semanas encontrávamos na Fonte ou no Cruzeiro – os locais de encontro habitual cá da aldeia – os mesmos de sempre, nestes últimos dias são bem diferentes as pessoas com que nos cruzamos. Até a igreja se tornou pequena no dia da Assunção para a 1ª Comunhão e Profissão de Fé de duas meninas que vão crescendo no país ao lado. A sua festinha tinha que ser na terra dos pais. É mais um laço a puxar às raízes.
Naturalmente, os mais velhos puxam pela memória para identificar alguns dos que vão passando. «Este já me custou a tirá-lo pelas parecenças, mas ainda lá fui!», afirmam com um certo ar de triunfo. «Mas há outros que me custa bem», referem com algum desencanto pela memória que vai ficando cansada. São filhos do …, netos da … (e lá sai o nome seguido da alcunha por que são conhecidos).
Agosto é sempre mês de reencontros. Por aqui, como por ali. Claro que, agora, já não é o mês todo. Felizmente, dir-se-á, porque, com algum jeito, sempre se pode ter uma semanita de descanso na praia. E ganha-se alguma cor, pois com tantos dias encobertos por lá, tanta neve, ficamos sem cor, nem andamos bem, queixam-se os que vêm mais do norte. É o sol retemperador dos europeus do sul que os nórdicos tanto invejam. E cobiçam. Mês de reencontros de vizinhos, de primos, por vezes, de irmãos e pais. Somos comunidades de migrantes. Qual a não é por este nosso Trás-os-Montes e Alto Douro? Em movimento, em busca. Nos nossos dias, tal como nos anos sessenta do século passado, ou no tempo da ida para os brasis. Agora, numa Europa de livre circulação de pessoas. Que era, porque já não é bem assim, com Salvinis, Órbans e quejandos no Poder. A impedir o desembarque de barcos com refugiados nas Lampedusas, quais portos de abrigo nos recantos do Mediterrâneo. Afinal, todos procuram algo melhor, que lhes torne a vida mais fácil, ou lhes faculte uma vida mais digna.
Por estes dias é a festa. A Festa, para ser mais preciso. Não interessa muito onde se está durante todo o ano. Se aqui, ou ali. Se no país, ou no estrangeiro. A vinda à Terra é importante. Que seja uma vez por ano, se não puder ser mais. Há até um cálice de vinho fino para partilhar. Na Festa lá estaremos. Todos os anos, dizem alguns. Mesmo que uma vez, ou outra tal não tenha sido possível. Alguém me segredou que nos anos da troika a Festa teve menos gente. «Nessa altura não vim cá », lembrou. Este ano, até as procissões têm mais gente a acompanhar.
No mês de agosto, as aldeias ganham um movimento pouco habitual, por vezes, um certo frenesim. São os nossos conterrâneos que regressam – alguns até trazem amigos -, que lhe trazem vida. Por esta altura. Vão começar a regressar aos países que os acolheram para trabalhar. No próximo agosto voltarão à Terra. Talvez só, enquanto os filhos e os netos quiserem vir.