Esta vitória, para lá do que vale e do que representa, significa muito mais do que parece. Moreira de Cónegos é uma terra pequena, numa região do Minho em que se trabalha e produz com estoicismo. Uma significativa parte dos portugueses (provavelmente a maior parte) não sabia, em rigor, onde este cantinho de Portugal se situava. Poderá agora fazer uma ideia melhor, após este título conquistado por um clube que, nascido nos anos vinte do século passado, só conseguiu afirmar-se já no século XXI.
Para conseguir essa afirmação, o clube teve de conquistar outras coisas: motivação, determinação, rigor, meios, gestão ajuizada, autoestima, identificação com o ambiente em que se insere. O Moreirense teve de abandonar um estatuto de alguma subserviência face aos mais poderosos e ao que tradicionalmente estava instituído, sacudindo a sua próxima consciência de que se situava numa paisagem periférica em relação a um ambiente mais favorável onde pautuam cidades com uma vivência mais intensa, desde o Porto, Gaia e Matosinhos até Guimarães, Barcelos e Braga.
Desta forma se regista uma descentralização no “poder do futebol”. O clube de Moreira de Cónegos conquistou o seu primeiro título de toda a sua história e não o fez sem demonstrar a grande capacidade de esforço, sacrifício, voluntariedade, qualidade e acerto das decisões, dirigido por um homem que já marcou posição de competência em anos anteriores, em clubes distintos (o presidente da Direção Vítor Magalhães que já foi autarca no “berço” de Portugal) e treinado por Augusto Inácio, um técnico de sucesso nem sempre reconhecido e apreciado.
A descentralização política em Portugal é um processo complexo e complicado que está em estudo. O Governo já afirmou a necessidade de transferir as competências que lhe têm sido costumeiras para as autarquias. Estas terão de deixar de ser a “Província” servil e dependente dos grandes centros de decisão. Este exemplo do sucesso do Moreirense poderá propiciar uma serena meditação sobre o que se poderá alcançar no país se os meios necessários forem acionados e utilizados com equilíbrio e com a mesma coragem, motivação e rigor. Meios que pertencem a todos e que têm de ser geridos por todos os que conhecem o ambiente em que se afirmam, não tanto os das grandes regiões que consideram as restantes como paisagem mas, sim, as mais pequenas mas igualmente poderosas como a que Moreira de Cónegos representa.
Muita razão tem o presidente da direção moreirense que definiu a vitória do seu clube, na Taça da Liga, como um “expoente máximo da pequenez”.