O objectivo da candidatura aponta para o melhoramento de toda a actividade apícola nos dois concelhos. Ao mesmo tempo, o consumidor vai ter uma maior garantia de qualidade e de origem do produto. Embora, o mel produzido nos dois concelhos já seja muito apreciado, o seu índice de excelência poderá ser maior, dada a evolução que se irá sentir na sua extracção e em todo o seu ciclo, desde a abelha até ao consumidor.
A nova “Zona Apícola Controlada” trará também benefícios financeiros para os apicultores, que quando apresentarem candidaturas, estando inseridos numa zona controlada, os seus projectos poderão atingir uma taxa de ajuda de 75% a 100%.
Por outro lado, todos os interessados que não pertençam aos dois concelhos e pretendem ser integrados no “território” classificado, têm que pedir autorização para aí se instalarem. Este controle é feito para evitar que os apicultores que tenham colónias más ou com doenças sejam admitidos.
O responsável pela AguiarFloresta, Duarte Marques, avançou, ao Nosso Jornal, mais alguns pormenores desta candidatura apresentada no primeiro trimestre deste ano. “A nossa Associação candidatou-se, mas antes disto, propusemos aos apicultores a nossa vontade e todos eles aprovaram e aderiram. A Direcção Geral de Veterinária, DGV, que é a entidade responsável pela gestão e controlo de todo o processo, deu ‘luz verde’ ao nosso documento. Na prática será a DGV que vai verificar se todos os objectivos que foram definidos estão a ser cumpridos”.
Neste momento, o projecto já está a ser implementado. “Vamos reunir com os apicultores, que estão na área demarcada e, por isso, têm que cumprir minimamente as condições e os requisitos, no sentido de definir o tipo de acompanhamento que cada um deles vai precisar para implementar o processo”.
A medida trará muitas vantagens ao apicultor, mas também uma maior responsabilização
O surgimento deste “território apícola” vai arrumar a casa de um sector onde o associativismo andava arredado. “Com a criação da zona classificada, a medida trará muitas vantagens ao apicultor, mas também uma maior responsabilização”, frisou Duarte Marques. Mas haverá muitas vantagens, como “o incremento dos apoios aos tratamentos, à aquisição de ceras, quadros, disponibilidade de formação e ajuda técnica”. Por outro lado, existirá uma maior fiscalização ou acompanhamento para ver se o apicultor cumpre ao nível da sanidade, controlo e dos tratamentos das doenças que afectam a região, obrigando parte dos apicultores a ter um maior acompanhamento e o registo de todas as actividades que fazem no apiário.
A AguiarFloresta surgiu para colmatar o facto de não existir nenhuma entidade no concelho a prestar apoio aos apicultores. O que existia era disponibilizado pelas Zonas Agrárias, mas no processo de reformulação das novas políticas de apoio, este foi transferido para entidades externas ou para entidades associativas. “A Associação candidatou-se e foi credenciada como entidade reconhecida para apoio aos apicultores. Entretanto, o concelho de Ribeira de Pena também não tinha nenhuma entidade local virada para esta área e nós como estamos próximos, começámos a sentir que alguns apicultores vinham aqui pedir informações. Como houve um aumento do número de apicultores a pedir ajuda, decidimos abranger também o concelho e dar resposta às suas solicitações”.
A candidatura aprovada não tem prazo. Sempre que apresentarem os projectos, os apicultores terão mais vantagens em relação a outros que não estão na zona controlada.
Neste momento, a AguiarFloresta possui um técnico exclusivamente dedicado à parte apícola que presta, durante todo o ano e 24 horas por dia, apoio aos apiários (instalações onde existem as colmeias). Faz acções demonstrativas sobre a forma de aplicar tratamentos, ministra formação em várias áreas da apicultura, como a produção de abelhas rainhas e todo o trabalho ligado à actividade apícola.
Era importante a instalação de uma unidade média de extracção local, que iria reduzir os custos dos apicultores
Para o futuro e além desta candidatura aprovada, uma unidade de extracção de mel local pode surgir em Vila Pouca de Aguiar. Duarte Marques não escondeu este desejo ao Nosso Jornal. “Será sempre uma unidade que se ajuste às necessidades reais dos apicultores e não queremos que fique aquém ou que fique sobrelotada relativamente à produtividade existente. Era importante a instalação de uma unidade média de extracção local, que iria reduzir os custos dos apicultores, que não seriam obrigados a criar a sua própria unidade. Queremos fazer esta unidade que responda efectivamente às necessidades dos produtores”.
O mel do concelho de Vila Pouca de Aguiar já passou fronteiras. Além da sua implantação a nível nacional, muita produção já vai para os mercados do Norte da Europa. A esta dinâmica não é alheio todo um trabalho da AguiarFloresta no apoio à própria comercialização. “No ano passado, ajudamos a vender o mel de alguns apicultores e, este ano, vamos tentar apostar mais forte. Estamos a fazer um estudo para criar uma imagem própria do mel da região, fazendo unidades individuais, em frascos, pequenos, grandes, médios e destinado a lojas gourmet”, contou Duarte Marques.
Quanto às características do mel produzido nesta região, elas são essencialmente derivadas da planta urze, que é o elemento da flora dominante nas serras da Padrela e Alvão, tornando o mel bastante escuro, mas com propriedades reconhecidas ao nível do paladar e da pureza. Enquanto, o mel de outras regiões poderá ter alguma contaminação pela presença de indústrias químicas e a “pressão” pelo uso de tratamentos fitossanitários nas actividades agrícolas, aqui este problema não se coloca, porque o mel não sofre qualquer “agressão” de agentes químicos, portanto é de grande qualidade.
O concelho de Vila Pouca de Aguiar tem uma produção média que varia entre as 30 ou 40 toneladas e existem já produtores que só por si colhem cerca de 5 toneladas.
Em Portugal existem cerca de 15 mil apicultores registados, correspondendo a um universo de aproximadamente 33 mil apiários e 555 mil colmeias. Em Trás-os-Montes, 61,1 por cento dos apicultores têm menos de 25 colmeias e 5,7 por cento dos apicultores têm mais de 150 colmeias.