Aliás, a nossa sociedade é contraditória: grita bem alto que cada um tem direito à sua privacidade e à sua intimidade, mas ao mesmo tempo alimenta a curiosidade de saber tudo sobre todos, de devassar a vida dos outros, de não perder pitadinha dos contornos rocambolescos da vida alheia. Proclama que se tem direito à autonomia e à independência pessoal, mas não acredita muito nisso e viola isso a toda a hora, com a bisbilhotice da vida dos outros para se ser igual aos outros.
Não consigo entender a importância que se dá à imprensa denominada cor-de-rosa, que anda à volta das também chamadas figuras públicas. Muitas são públicas não porque apresentam um trabalho de reconhecido valor, mas simplesmente porque aparecem e estão sempre a aparecer. Entender aquela importância até consigo: vivemos numa sociedade exibicionista. As pessoas gostam de mostrar o seu status social, o seu glamour, a sua conformidade com a moda, a sua superioridade intelectual, o seu sucesso empresarial, a sua riqueza, por maior que seja a fachada e a representação, tudo em nome do reconhecimento social, considerado fator de realização e felicidade. Não ser falado e não dar nas vistas é uma seca! Que as pessoas gostem de imitar os pavões, paciência. Agora, que isso interesse aos outros, não consigo entender. Que me importa a mim que é um playboy irresponsável, armado em garanhão, ou uma ninfomaníaca desvairada, que tem tantos carros não sei de que marca, que tem mobílias chiquíssimas, que organiza não sei quantas festas, que é amigo não sei de quem, que esteve não sei onde, que vai de férias para não sei onde, que fez plásticas e por aí fora? A quem é que interessam estas banalidades e futilidades? Com tanta coisa boa para ler, perco-me neste amontoado de imprensa medíocre?
Mas estejam descansados. Há uma multidão ávida e insaciável destas novidades, destes feitos admiráveis, que já tem umas boas horas destinadas na praia para esfolhear conteúdos altamente instrutivos para a mente humana e para a sua exigente formação humana.