É natural que nos votos, no sonho haja alguma utopia. Deseja-se que, no mínimo, a distância entre uns e a outra não seja muito acentuada.
Vivemos nos últimos dias e, ao que parece, este uso universalizou-se, a desejar uns aos outros Festas Felizes, Boas Entradas, um Bom Ano, um Excelente 2020. Se não é um voto sincero e eu estou convencido que o será, aceita-se, no mínimo, que manda a tradição que assim seja. E assim nos cumprimentamos. A felicidade, a prosperidade, enfim, a saúde e a paz são votos presentes em todas as formulações do nosso Bom Ano.
Pessoalmente e dadas as circunstâncias em que os órgãos de comunicação social nos envolvem achei natural que um dos votos do Presidente da República fosse o da “saúde”. E nisso coincidiu com os votos de Boas Festas do Primeiro-Ministro. Mas Marcelo Rebelo de Sousa enunciou outros desejos: “segurança, coesão e inclusão social, conhecimento e investimento”. E falou em Governo forte. Podem crer que o adjetivo me tocou nos tímpanos. Juntou-lhe os qualificativos “concretizador e dialogante”, porventura, para atenuar. Será ótimo que assim seja. É que forte pode induzir significados estranhos. Para haver diálogo é necessário que as duas partes se disponham a dar-lhe conteúdo. Oxalá! Embora, neste início do ano, em debate parlamentar do Orçamento do Estado para 2020 parece não estar a ser muito profícuo. E o caminho que vinha sendo trilhado tem dado bons frutos. Para cada um, mas, igualmente, para todos, enquanto sociedade, enquanto país.
O 1º dia de cada ano é assinalado há mais de meio século, entre os católicos, como o Dia da Paz. É um voto a que facilmente todos aderem. Quando o atual Presidente dos Estados Unidos foi eleito apressou-se a afirmar que terminaria com a guerra no Médio Oriente com grande brevidade. Afinal, 2020 inicia-se sob o signo da guerra ou, claramente, sob o signo do risco do recrudescer da guerra naquela região do Mundo. Trump, há tempos, deixou os Curdos entregues a si próprios. Agora, dizem especialistas nestas matérias, aconteceu com outro coadjuvante, senão aliado, na luta contra o “Daesh”.
Finalmente, mas ainda no âmbito do período natalício de votos de paz e prosperidade, a entrevista mais que polémica que o Expresso nos oferece “para se explicar”, diz o entrevistador, para branquear um discurso populista e ultraliberal, direi eu e, decerto, muitos outros leitores. Daqui, deste outro lado do Marão, será difícil ver de outro modo afirmações como “o remédio para estancar o êxodo dos melhores é restringir a imigração”. São palavras de Steve Bannon, o ideólogo do Presidente do país, os EUA, que só existe porque se erigiu à custa de fluxos migratórios nos quase três séculos que leva de existência. Uma crítica ao Governo português e a outros europeus empenhados em criar para os muitos que chegam à Europa, fugindo a guerras e à fome, e procuram reencontrar um pouco de esperança.