E ao contrário do paradigma nacional “trabalhar mais” em vez de “trabalhar melhor”, esse esforço obrigar-nos-á a sermos eficientes na utilização dos nossos parcos recursos. Isso inclui um maior e melhor escrutínio aos gastos públicos: de que forma as receitas dos nossos impostos são aplicadas, e qual o seu retorno, tanto financeiro como económico, isto é, não apenas a riqueza gerada, mas também o bem-estar criado. E este rigor na execução pelos agentes do Estado, mas também e cada vez mais a atenção e exigência de nós próprios no dia a dia, não se limita aos temas mais fracturantes, como a reestruturação da TAP ou a dissolução do SEF. Este movimento de recuperação começa com a forma como as nossas autarquias agem nas nossas vilas, aldeias e cidades.
Ao percorrer Vila Real, apercebo-me da transformação do canal ferroviário da Linha do Corgo, que percorre toda a zona este da cidade, desde a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ao centro comercial, Parque Corgo, Teatro, Centro de Saúde de Mateus, até Abambres-Gare, em mais uma ecopista. Um canal privilegiado de comunicação, que liga boa parte das infra-estruturas âncora da cidade, convertido numa pista para caminhadas, porque desde há 20 anos nenhum político ou decisor público parou dois minutos para pensar que nem todas as vias-férreas encerradas estão condenadas a ficarem assim eternamente, ou a não terem outra solução que não serem convertidas em ecopistas. Pelo menos não sem um estudo de reabertura ser elaborado, e dizer de forma estruturada, e não por opinião ou moda, se a reposição do serviço ferroviário às populações e empresas é viável económica e financeiramente ou não.
Os carris, ainda visíveis em alguns troços, vão desaparecendo. Não se vislumbram placas a explicar para o que é a obra. Nos planos consta a recuperação da estação de Abambres para apoio aos utilizadores, mas essa é uma promessa que já vi em inúmeros planos de outras tantas ecopistas cair em saco roto, deixando estações e casas de guarda em estado devoluto. Sublinho a persistência – rara – de sinalização no trajecto: o sinal avançado de Abambres na Rua da Pimenta, bem como o limite de manobras e os sinais principais de entrada e de saída a jusante da estação de Abambres, a qual ainda preserva linhas e agulhas. E este património industrial e histórico, vai ser preservado? Matar a memória ferroviária e as aspirações do território a mobilidade sustentável e dinamizadora da Economia por facilitismo não pode merecer a aprovação parcimoniosa e desinteressada da população. Isto é subverter as prioridades para o futuro em troca de obras de ocasião no presente.
2021 vai ser o Ano Europeu do Transporte Ferroviário, com Portugal a assumir a Presidência do Conselho da União Europeia durante o 1º semestre do ano. Em Vila Real há quem diga “Não!” à Ferrovia. Eu digo “Sim!” ao meu futuro. E esse, goste-se ou não, passa por mobilidade sustentável e Economia dinâmica, conceitos que em países mais esclarecidos andam de mãos dadas com a Ferrovia – sem comprometer o desporto e o bem-estar dos cidadãos, já que espaços para ecopistas e caminhadas não faltam. ■