Este crescimento é especialmente impressionante porque há pouco mais de duas décadas a Roménia era um país bastante pobre no contexto europeu e o seu PIB per capita, em paridade de poderes de compra, era cerca de um terço do PIB per capita português (27% da média da UE face a 85% em Portugal). Em 2022, ambos os países registaram um PIB per capita correspondente a 77% da média comunitária.
A primeira década deste século foi marcada por uma forte vaga de migração de romenos para Portugal, bem como de outros países do leste europeu. Oriundos de países muito mais pobres, procuravam melhores condições de vida e melhores trabalhos. Entre 2000 e 2010 entraram cerca de 37 mil romenos em Portugal. De então para cá, tem havido um abandono gradual do país, sendo que em 2021 já havia menos 8 mil romenos em Portugal do que em 2010.
O economista Zsolt Darvas, do think tank “Bruegel”, refere que “desde o início dos anos 2000, a Roménia tornou-se uma economia convergente, impulsionada por reformas voltadas para o mercado, e beneficiou do investimento estrangeiro direto e da atualização tecnológica”. O investimento cresceu, a preços constantes, 101% desde 2000 (em Portugal houve uma quebra de 13%). Tem havido também uma maior aposta no sector industrial, que representa 22% da economia romena (17% em Portugal).
Consequentemente, houve um crescimento de 579% no valor das exportações (Export Value Index) da Roménia, desde 2000, ao passo que em Portugal se ficou pelos 153%. A margem de lucro empresarial representa atualmente 53% do VAB (37% em Portugal) e o salário médio, ajustado para a inflação e em paridade de poderes de compra, cresceu 62% desde 2008 (apenas 5% em Portugal).
A “falta de grandes desenvolvimentos insustentáveis (como aumentos muito rápidos dos preços das casas, dívida pública alta e dívida externa elevada, como em muitos países do sul da Europa) contribuiu para a estabilidade macroeconómica, que ajudou o crescimento”, finalizou Darvas. A dívida pública romena, em percentagem do PIB, nunca ultrapassou os 50%.
PIB per capita atual não é necessariamente sinónimo de qualidade de vida quando comparamos dois países que geraram níveis de riqueza (PIB per capita) muito distintos nas últimas décadas (Portugal muito acima da Roménia). Esta é a diferença entre fluxo (PIB per capita) e stock (riqueza acumulada). Mas estes indicadores deixam-nos um sinal de preocupação claro: mesmo perante o ponto de partida muito atrás da Roménia e todas as fragilidades reconhecidas, conseguiram alcançar-nos, enquanto nós perdemos a oportunidade de convergir mais com a União Europeia. Será uma questão de tempo até esse crescimento romeno manifestar-se positivamente também noutros indicadores, superando Portugal.