Esta jornada nasceu no séc. XIX como resposta de cristãos piedosos empenhados em solucionar o escândalo de haver há discípulos de Cristo separados em grupos rivais a ponto de haver Estados de se guerrearem pelas armas, o que atesta haver entrado nessas separações grandes interesses políticos.
Os cristãos estão hoje agrupados em três grandes ramos ou igrejas: os Ortodoxos do Médio Oriente e Rússia; os Protestantes, nascidos da revolta luterana germânica, depois alargada com outros nomes à França, Suíça, Inglaterra e suas colónias; e os Católicos ou romanos. Os cristãos ortodoxos não têm um chefe geral, vivem em dioceses autónomas ainda que agrupadas em volta de um bispo patriarca que, embora não tendo jurisdição sobre os outros, exerce sobre eles alguma influência e torna assim possível algum diálogo; tal diálogo é muito mais difícil com os protestantes que formam grupos autónomos que não cessam de se multiplicar (Diz-se até com alguma lógica que, ao colocar como base da sua fé a inspiração da consciência individual, cada protestante tende a constituir uma igreja). Por esse motivo, os católicos ingleses, quando se separaram de Roma no séc. XVI, não queriam chamar-se «protestantes» mas «anglicanos» ou «católicos ingleses».
O diálogo da Igreja católica com os ortodoxos tem avançado bastante, tendo quase como único ponto a esclarecer o ministério do Papa; o grupo protestante anglicano, desgostoso pela admissão de homossexuais e de mulheres à ordenação sacerdotal no interior da sua igreja, vem a desenhar-se um movimento de conversão ao catolicismo. O Papa criou recentemente para eles um género especial de dioceses ou ordinariato: esses bispos anglicanos aceitam receber a ordenação católica de presbíteros (não de bispos) por as ordenações anglicanos serem inválidas e mantêm-se casados. São eles quem acompanhará os fiéis anglicanos convertidos. Também com os luteranos tem havido frutuosos trabalhos de reflexão teológica seguida de acordos doutrinários. Recentemente Bento XVI nomeou presidente da Academia das ciências no Vaticano um cientista de confissão protestante, que já fazia parte da mesma Academia
É a este diálogo de aproximação dos três grupos cristãos que dá o nome de Ecumenismo.
2 – Paralelamente a este movimento, o Papa vem a desenvolver um diálogo religioso sério com os Judeus e com os Muçulmanos, chamado «diálogo inter religioso» para distinguir do Ecumenismo entre as religiões cristãs irmãs.
Com os Judeus nunca as relações foram tão boas, como reconhece o presidente israelita Shimon Peres, embora por vezes se oiçam queixas de chefes de sinagogas locais. Os papas têm condenado todo o tipo de anti-semitismo e alterado certas expressões litúrgicas que apareciam nos livros de culto católico, não por táctica diplomática mas por uma questão de doutrina, uma vez que os judeus actuais não podem ser responsabilizados pelos actos dos seus antepassados bíblicos.
Com os Muçulmanos, o diálogo é mais difícil, não só por não haver entre eles um chefe comum que seja porta-voz de todos (existindo distintos ramos islamitas que se agridem mutuamente), mas também pelo terrorismo que alguns praticam.
De um modo geral, o Islamismo tem na sua doutrina e prática uma ligação íntima entre a fé e a política local, considerando a terra por eles ocupada como sagrada, não autorizando aí a construção de igrejas cristãs. Além disso, não admitem uma crítica racional às posições religiosas, como nós cristãos fazemos na nossa fé, e tomam tais críticas como insultos e blasfémias. Tudo isso torna muito difícil o diálogo. Esse diálogo é, porém, indispensável, até por questões sociais e de paz mundial, e foi esse convite a essa reflexão crítica interna que o Papa pediu aos muçulmanos no seu discurso em Ratisbona (Alemanha) e que tanta polémica gerou. Passados, porém, os primeiros dias, os grupos muçulmanos moderados perceberam o alcance das palavras de bento XVI e aceitaram fazer esse diálogo interno com os cristãos. A este avanço positivo se refere o Papa no seu recente livro «Luz do mundo», Cap. IX.
3 – O diálogo ecuménico e inter religioso só são compreendidos por quem pratica e ama a sua fé. O homem descrente olha para isto como uma questão cultural e aconselha a ultrapassar os problemas religiosos pelo jogo diplomático, cedendo cada grupo um pedaço para se entenderam num campo comum!
O Papa ensina que o caminho do ecumenismo cristão e do diálogo passa fundamentalmente pela vivência interior da fé de cada grupo religiosos acompanhada do estudo crítico dos seus textos religiosos, seja a Bíblia cristã, sejam as Sagradas Escrituras judaicas, seja o Corão. A razão humana é um dom de Deus e, aplicada ao texto religioso, pode ajudar a compreendê-lo melhor, fazendo amar todos os seres humanos e compreender que, em todas as religiões, há aspectos históricos e culturais que são secundários, e são eles que entravam o diálogo e a aceitação dos outros.
Nas áreas laicizadas, como é a Europa, a existência do diálogo interno das igrejas cristãs e com as outras religiões deve despertar o sentido profundo da vida e o respeito pelos cidadãos crentes: são eles quem dá o sentido profundo à civilização, não a reduzindo ao fabrico de coisas, à agitação política, ao folclore cultural. Por esse motivo, os sinais religiosos são merecedores de todo o respeito, e a sua eliminação seria um atentado aos direitos humanos.