Na verdade, sendo o livro um amigo, nada melhor que levar amigos a uma terra que há dois ou três séculos terá sido, segundo alguns, povoada por transmontanos, habituados que estavam às dificuldades de uma terra inóspita e agreste como é a sua e que para ali foram deslocados por ser terra semelhante. A designação – Trás di Munti, em crioulo, Trás-os-Montes, em português de Cabo Verde, não deixará muitas dúvidas. E a Douro Generation tem na sua génese as preocupações de “fomentar a cooperação entre povos ou regiões, através de iniciativas que valorizem a promovam a riqueza histórica, cultural, ambiental e socioeconómica”.
Quando a Cidade Velha de Ribeira Grande comemorou os 10 anos de classificação pela UNESCO como Património da Humanidade deu azo a um oportuno momento para fazer chegar à Escola Básica de Trás os Montes um bom punhado de livros da iniciativa lançada em finais de 2017. Um Património a receber amigos de outro Património UNESCO. A partilha de livros, escolares e outros, é uma boa expressão de cooperação entre povos ou regiões. E uma Escola, como foi o caso da Escola das Árvores, que oferece livros que, porventura, tem a mais, o Grémio Literário de Vila Real, que convida os seus autores a partilhar os seus escritos com crianças, jovens e adultos de terra distante, mas que se identifica e designa do mesmo modo da região em que nasceram, famílias e cidadãos, algumas crianças, que oferecem o amigo livro que em tempos receberam dos pais ou de outrem, em dia de aniversário, ou pelo Natal, todos estão a reconhecer a importância da Educação e da Cultura no desenvolvimento, pessoal e comunitário.
Que aquela zona do município de Tarrafal de Santiago é muito semelhante à nossa região, basta uma observação ao que nos envolve no passeio que uma estrada em calçada tradicional possibilita, de preferência, em viatura todo o terreno. Ou como alguns estudiosos testemunham na sua investigação – como é o caso de Tânia Isabel Guimarães Madureira (2012, no seu livro “A revitalização da olaria em Trás di Munti e os seus significados locais – Loiça pintada não é património?”, em que afirma ser uma “localidade marcada pela aridez dos solos e pela escassez da chuva.” Até os seus habitantes embarcam (emigram) para “melhorar as condições de vida e com a intenção de conhecer mundo”. Afinal, desígnio comum.
A mensagem não poderia ter melhor recetividade. Por parte da Câmara Municipal, por parte dos Professores da Escola Básica e da Escola Secundária, também, certamente, assim será por parte dos alunos, a partir de setembro. Afinal, um quadro preto, um caderno e um lápis, ainda podem ser muito úteis para comunidades com quem partilhamos a Língua.