A dificuldade dos serviços de urgência em darem resposta às necessidades dos portugueses, fez com que os tempos de espera se tenham tornado extremamente elevados. Essa será umas das principais explicações para que em 2022 tenha havido menos 1,8 milhões de pessoas atendidas nas urgências hospitalares face a 2019 (-4%), uma descida de 40,4 milhões para 38,6 milhões de atendimentos. Comparativamente com 2021 e 2020, houve um crescimento, uma vez que nesses anos se fez sentir o impacto da pandemia de Covid-19, por isso a comparação com 2019 (último ano pré-pandemia) permite uma análise mais rigorosa.
Face a 2019, a quebra nos atendimentos em 2022 foi ainda mais elevada nas urgências obstétricas, com uma diminuição de 11%. Foi notícia ao longo do último ano o encerramento temporário de diversos serviços de urgência obstétrica, um pouco por todo o país.
Entre os hospitais do SNS verificaram-se bastantes disparidades, sobretudo a nível geográfico. Se os hospitais em que se verificou um aumento de atendimentos nos serviços de urgência entre 2019 e 2022 são predominantemente hospitais do norte do país (principalmente da Área Metropolitana do Porto), foi nos hospitais da Área Metropolitana de Lisboa (AML) que se verificou uma maior quebra nos atendimentos (3 dos 4 hospitais portugueses com maior variação negativa são da AML). Entre os hospitais com maior descida, em termos percentuais, encontram-se o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures (-21%), que tinha gestão privada em 2019 e desde 2022 tem gestão pública, o Hospital de Santa Maria, em Lisboa (-16%), que é o maior hospital do país, a Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (-10%) e o Hospital Garcia de Orta, em Almada (-10%). Só no Santa Maria foram atendidas menos 276 mil pessoas face a 2019. No maior hospital do norte, o Hospital de São João, houve um aumento de 2% nos atendimentos.
O sistema de saúde precisa de reformas urgentes, alheias de fundamentalismos ideológicos e que coloquem os portugueses no centro da decisão. Torna-se mais evidente hoje que, por exemplo, o fim das PPP na saúde foi um erro. Uma análise holística, que vá para além do SNS, é essencial, para assegurar que não ficamos reféns de um sistema que tem degradado os seus níveis de qualidade e que segrega cada vez mais os cidadãos (quem tem possibilidades, pode ir ao privado, onde os tempos de espera são reduzidos, enquanto os outros ficam limitados às intermináveis filas de espera do SNS).