Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2024
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Factos sociais e legislação

São tantos os factos sociais recentes a merecerem um comentário clarificador que nos vemos na necessidade de abreviar esses comentários a fim de, em cada semana, não nos distanciarmos da vida real. Esses factos recentes são o «Dia das Comunicações Sociais» ocorrido no Domingo passado e dedicado às novas tecnologias da comunicação, a Visita do Papa e as várias mensagens que nos deixou, a Promulgação da lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e a Jornada da Vida a decorrer até ao próximo Domingo.

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1 – Sobre as «Comunicações sociais» o Papa fala na sua mensagem dos «novos media» (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas Internet») em confronto com os «velhos» media (jornal, a rádio, e televisão) e, neste Ano Sacerdotal, recomenda aos sacerdotes que recorram aos «novos meios» que «possuem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, e nos colocam no limiar de uma «história nova», abrindo horizontes de um auditório ilimitado. Tais meios são hoje ferramenta disponível para toda a gente, mas são «especialmente sentidos pelo mundo juvenil» como emissores e receptores. Todavia, o sacerdote não deve usar os media como «mera exigência de modernidade, um passatempo ou meio de protagonismo individual, mas deve saber «colocá-los ao serviço da Palavra de Deus e da pessoa de Jesus Cristo». Para isso, requer-se uma preparação adequada que deve ser ministrada «já no tempo de formação» no Seminário.

Essa formação requer, além da técnica, uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor». No impacto com o mundo digital, «mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer a seu coração de consagrado para dar alma ao serviço pastoral e ao fluxo comunicativo ininterrupto da «rede». Os destinatários da comunicação do padre na Internet são todos os que viajam na Internet, os crentes de todas as religiões, os que se encontram em condições de busca, os não crentes e pessoas de todas as culturas.

Esses meios ajudam o sacerdote comunicador a sentir que «somos todos parte uns dos outros», mesmo os que vivem longe e cujo rosto se desconhece; a sentir a universalidade da Igreja e que a Internet é uma espécie de «casa de oração para todos» ou «pátio dos gentios» onde chega a voz do profeta, como acontecia no antigo Templo de Jerusalém onde, além do espaço reservado aos crentes, havia um espaço para os estrangeiros, os devotos, os simpatizantes.

Finalmente, como acontece em qualquer pregação, sessão de catequese, aula de Moral e diálogo cultural, o trabalho de evangelização tem de ser acompanhado de muita oração pois só o Espírito Santo dará fecundidade à sementeira.

São bastantes os sacerdotes que, na Diocese, utilizam os novos media na catequese, na pastoral dos jovens e na vida quotidiana. Têm na mensagem deste ano um apoio à sua opção, uma advertência sobre os seus desvios, e um estímulo para o seu bom uso.

2 – A Visita do Papa a Portugal ajudou a perceber o império dos media, nem sempre objectivos e leais, e a captar o verdadeira rosto de Bento XVI como homem da inteligência e do coração, piedoso e objectivo, e desmontou a cortina de fumo que alguma comunicação social quis levantar entre o Papa e povo para impedir que este ouvisse a mensagem do Papa. Essa mensagem é polivalente e abrange a vida interna da Igreja (a dimensão orante que complete a dimensão intelectual do crente, a atenção aos novos movimento eclesiais de índole carismática, a formação dos leigos), e a presença da Igreja no mundo da cultura, nas obras de acção social e naqueles lugares onde frequentemente Deus é afastado (a política, a comunicação social, a cultura). Esta Visita merece que a ela voltemos um dia com mais tempo e espaço.

3 – Na segunda-feira, dia 17, foi promulgada a Lei do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

Mais importante que discutir se o Presidente da República devia obrigar a prolongar a discussão dessa lei no Parlamento, é tomar consciência do caminho sinuoso percorrido pelos criadores dessa lei em Portugal: não foi pedida pelos cidadãos, foi imposta aos deputados pelo Partido que detém o Governo e habilidosamente sufragada pelos juristas do Tribunal Constitucional.

Os comentadores da vida política dizem que é uma lei feita para distrair os cidadãos do fracasso económico e financeiro, e para o Parlamento afirmar a força de uma ideologia.

Talvez tudo isso seja verdade, mas o que nessa lei há de mais inquietante é o desprezo da cultura do Direito, a manipulação de conceitos fundamentais como casamento, família, sexualidade – o exemplo daquilo que há semanas aqui se referiu como a «liquidez» da modernidade, ou seja, a destruição do que há de «sólido», de estável na cultura e no pensamento humano, ficando tudo sujeito ao império da vontade acima da razão! No Centro Cultural de Belém, por ocasião do encontro do papa com os agentes da cultura, falei com o Prof. Jorge Miranda sobre essa ausência da cultura do Direito, e ouvi dele o lamento de que «tais fundamentos são hoje cada vez menos cultivados». No seu discurso, o Papa abordaria exactamente a tirania de uma cultura que sobrevaloriza o «presente» e esquece ou despreza a tradição cultural e, desse modo, essa «cultura» acabará por retirar aos povos a sua identidade, deixando-os à deriva.

Também por isso, a Justiça em Portugal anda como anda.

4 – Está a decorrer a «Semana da Vida», uma actividade pastoral destinada a chamar a atenção para a centralidade da vida humana na organização política e social.

Com as novas tecnologias que permitem conhecer e controlar os mecanismos biológicos e satisfazer os egoísmos mais disfarçados, é grande a tentação de fazer do laboratório, da medicina, da cirurgia um império da afirmação do homem ao serviço de vantagens políticas e económicas, afectando sobretudo os mais débeis: embriões humanos, jovens, mulheres e idosos, com milhares de drogados, de abortos, de vítimas da eutanásia.

Os factos aí estão: Portugal teve no último ano, 19.ooo abortos; em Espanha, em vinte anos de aborto legal, um milhão de crianças foram mortas antes de nascer; na Europa comunitária, faz-se um milhão e duzentos mil abortos em cada ano; na Rússia, no último ano, o número de abortos igualou o de nascimentos. Estes factos são por si dolorosos, mas por detrás desses números, há uma literatura de falsidade sobre a origem e a natureza da vida, sobre a saúde e os direitos da mulher, sobre o direito dos jovens à liberdade sexual, sobre o conceito de progresso e de morte com dignidade.

Deste modo, a destruição de vidas humanas é precedida e acompanhada da destruição da verdadeira cultura sobre a vida, tal como acontece na já referida área do direito! O legislador fabrica o direito que lhe convém para fazer a política desejada, fabrica os conceitos de casamento e de família para dar cobertura às suas fantasias modernas, fabrica o conceito de liberdade e de educação para encobrir a falta de valores fundamentais. É uma espécie de «Maio de 68» pacificamente montado. Esse voluntarismo só pára diante da contabilidade objectiva das Finanças e da Economia. Por isso, aí deixamos de ir na frente.

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