O investigador do Departamento de Geologia da UTAD, João Carlos Baptista, tem desenvolvido pesquisas importantes em áreas como a neotectónica de falhas tardi-hercínicas, roteiros geológicos, experimentação nas Ciências da Terra e na inventariação, valorização e divulgação do património geológico. Tendo como pano de fundo o trágico sismo do Haiti, o Nosso Jornal não podia ficar indiferente a uma realidade que é reconhecida, já que existe uma falha sísmica ainda activa e debaixo de olho de sismólogos e geólogos. João Carlos Baptista confirmou esta situação. “De facto, o que temos no distrito são estruturas geológicas, falhas activas importantes que podem gerar movimentos sísmicos. As mesmas podem gerar sismos máximos de magnitudes entre 7 – 7,5, ao longo da falha, que passa por Chaves, Vila Real, Régua, que atravessa quase longitudinalmente o distrito e prolonga-se até S. Pedro do Sul e Penacova”.
A consequência desta falha tectónica é bem visível nas nascentes de água de alta temperatura, como é o caso de Chaves e Caldas de Moledo, onde a água só circula por bombagem sísmica, ou seja, pequenos sismos fazem bombear a água para cima e circular a água em profundidade, que é aquecida. “Ao longo dessas estruturas existem vários segmentos com comprimento na ordem dos 30 km e se existir ruptura em mais do que dois desses segmentos pode gerar sismos de magnitude desta dimensão”. Contudo, este docente considera que para a realidade da região “os intervalos de ocorrência desses grandes sismos podem ir desde os 4 mil aos 20 mil anos”.
Não se pode prever quando ocorrerá o próximo sismo, já que não há dados suficientes para dizer quando é que foi o último sismo desta magnitude. No distrito, “sabemos e conhecemos as estruturas geológicas que podem gerar sismos de 7 ou 7,5. No entanto, podemos estar descansados porque estes sismos ocorrem espaçados no tempo. Mas, é preciso referir que “no distrito de Vila Real existe a ocorrência de sismos de magnitudes menores, que não são sentidos, há outros que são, mas não causam estragos ou qualquer tipo de problema”.
As zonas mais sensíveis no país são em todo o Vale do Tejo, Algarve, Açores e Madeira, onde os intervalos de ocorrência são menores, num intervalo de um por milénio ou até um pouco menos. Na zona de Trás-os-Montes, os estudos apontam para um intervalo de quatro mil até vinte mil anos.
Na ideia do professor da UTAD, a prevenção é uma boa medida para reduzir os impactos e os efeitos da eventual ocorrência de um grande sismo. “O importante é que, pelo menos, as estruturas principais: hospitais, edifícios dos bombeiros, barragens e as linhas de intercomunicabilidade devem ser dimensionadas de forma a ter o mínimo de estragos possíveis, na eventualidade de uma ocorrência de grande magnitude. Mas, isto compete aos decisores políticos”.
Nos últimos anos, uma das áreas que tem merecido especial atenção pelas entidades competentes é a construção. “Agora há mais cuidado, uma vez que a construção tem que obedecer a regulamentação específica. As estruturas são dimensionadas para suportar o peso das estruturas, não é para suportar cargas verticais”. “A única forma é construir edifícios que sejam flexíveis com armações à volta e interligadas, para que o conjunto seja flexível e, assim, é possível resistir às vibrações dos solos. Hoje, o tipo de construção é baseado em betão armado, o que suporta a estrutura são as vigas, tem ferro e está tudo travado, enquanto nas casas mais antigas as paredes suportam toda a estrutura. Mesmo os prédios altos resistem muito mais, podem sofrer alguns danos na estrutura, mas as pessoas acabam por sair ilesas”.
Este investigador refere que “deveria haver uma maior fiscalização”, pelo menos nas zonas mais problemáticas. “Bastam algumas medidas simples para trazerem alguma segurança às pessoas. É preferível fazer logo um investimento que pode salvar muitas vidas”, frisou João Carlos Baptista.
Confrontado com a possibilidade de acontecer em Trás-os-Montes o que se passou no Haiti, João Carlos Baptista foi claro, sublinhando que o contexto geológico “é muito diferente”. O Haiti é uma ilha, nós estamos associados ao continente Euro-asiático, com toda a Península Ibérica e depois a Ásia, embora estejamos aqui numa zona próxima da fronteira de placas, como é o caso da placa africana e da americana”.
Nesta abordagem fez questão de reconhecer também a importância de algumas acções da Protecção Civil junto da comunidade escolar. “As entidades responsáveis têm feito alguma divulgação junto das escolas para sabermos como agir se estivermos num local onde ocorra uma situação deste tipo”.
Em jeito de conclusão deixou alguns conselhos para a ocorrência de um abalo sísmico. “Geralmente, devemos tentar ficar debaixo de coisas resistentes. Por exemplo, vãos de portas, depois devemos tentar sair para um espaço aberto e não voltar para dentro de edifícios, porque pode haver réplicas e, como as estruturas já estão fragilizadas, com a réplica a casa colapsa e as pessoas acabam por morrer desnecessariamente”.
A última ocorrência com algum significado no distrito remonta a dia 30 de Outubro de 2001. Este abalo sísmico foi registado nas estações sismográficas de todo o Continente, o mesmo foi sentido especialmente nos concelhos de Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar. Aliás, o seu epicentro foi localizado junto as localidades de Paredes do Alvão e Lixa do Alvão, sensivelmente a dez quilómetros de Vila Pouca de Aguiar, embora em Vila Real também tenha havido algumas pessoas que sentiram o seu efeito. Contudo, aquele que provocou o pânico nas zonas de Chaves e Vidago foi registado em 25 de Dezembro de 1908, cujo epicentro foi na Galiza, atingindo o grau 6 na escala de Richter.
Embora este pequeno terramoto chegasse à escala II/III de Mercalli modificada, não causou danos pessoais ou materiais.
A eventualidade de um terramoto faz parte dos Planos Municipais de Emergência. Um grupo de operações que envolve bombeiros, forças de segurança, PSP e GNR, Cruz Vermelha Portuguesa, segurança social, Administração Regional de Saúde, hospitais, Regimentos militarizados, serviços florestais, serviços municipalizados, todos sobre a coordenação do órgão competente de Protecção Civil.