Sábado, 14 de Dezembro de 2024
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Adérito Silveira
Adérito Silveira
Maestro do Coral da Cidade de Vila Real. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Guiando o meu mini rumo a Vila Pouca

Um dia guiando eu o meu Mini, tardei um pouco a arrancar ao sinal verde, enquanto condutores atrás desencadeavam sem demora as suas buzinas sobre as minhas costas.

Fiquei tão nervoso que quando ia a arrancar fiz marcha atrás batendo numa moto, cujo condutor se estatelou gemendo de dores e de raiva…

Exatamente no mesmo lugar meses mais tarde, deslocando-me eu para Vila Pouca de Aguiar, um outro incidente aconteceu nas mesmas circunstâncias. Uma moto guiada por um homenzinho seco e de lunetas, tinha-me ultrapassado colocando-se à minha frente ao sinal vermelho. Com a paragem súbita, o enfiado homem tinha deixado ir abaixo o veículo e debalde empenhava-se em pô-lo a trabalhar… ao sinal verde eu pedia-lhe com delicadeza que desviasse a moto para passar… o homem, teimoso, olhava-me com ameaça e indiferença ao mesmo tempo. Respondeu-me, cuspindo no chão que eu fosse à fava… insisti com cortesia. Fez-me logo saber que me mandava à fava e ao raio que me partisse.

Entretanto, começava já a fazer-se ouvir atrás de mim um vozeiro de buzinas e eu pedi ao enfezado homem que fosse educado e considerasse o seu comportamento.

Irascível, informou-me que se eu desejasse o que ele chamava uma sova, ma daria com todo o gosto. Tanto cinismo encheu-me de fúria e saí de mim com intenção de aquecer as orelhas àquele pileca de gente, porque, na verdade, ele era bem mais baixo do que eu, dando-me quase pelos ombros… Mas mal pus os pés no chão, logo a turba começou a juntar-se e um homem hercúleo precipitou-se sobre mim e me asseverou que eu era um reles diabo e não permitiria que se batesse num homem que tinha uma moto entre as pernas e que, por isso, estava em desvantagem… fiz frente a este mosqueteiro rufia, mas, na verdade, quase não o vi. Mal voltara a cabeça ouvi ao mesmo tempo a moto a trabalhar de novo, recebendo eu uma pancada violenta num ouvido. Antes de poder aperceber-me do que se tinha passado, a moto afastou-se.

O homenzinho covardemente tinha-me dado uma bordoada com o capacete. Olhei-o; já ia longe… nervosamente longe assobiando…

Entretanto, avancei para o homem avantajado de corpo quando no mesmo momento um concerto exasperante de buzinas se erguia da fila já considerável de carros.

Voltava o sinal verde e eu voltei para o meu Mini e parti, enquanto o tipo me saudava com um injurioso: “eh camelo!”13 E o dedo médio bem saliente exibido para mim…

Eu e o meu Mini havíamos de recuperar o tempo perdido rumando até Vila Pouca de Aguiar para uma aula de Educação Musical.

Mais uma vez, o meu carro parecia levar fogo… ele bem sabia porquê. Corria o ano de 1977. Neste tempo já ele tinha rodagem suficiente para saber ultrapassar odisseias desta natureza.

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