Graças à inteligência, o ser humano pode-se compreender a si mesmo e ao mundo que o rodeia, pode adquirir sabedoria e conhecimento, desenvolver-se e aperfeiçoar-se, ser criador e ser criativo, ser construtor e arquiteto da vida e do mundo. Mas a inteligência também tem outra missão importante: dar equilíbrio, sensatez, ponderação e freio a um ser que se reveste de emoções e sentimentos, como é o ser humano, dimensão que não pode andar à solta e que precisa de ser educada, para que o ser humano não se torne perigoso e desumano. A racionalidade tem a nobre missão de ajudar a conduzir e a gerir as emoções, de tal forma que cada ser humano saiba realizar a sua humanidade com os outros seres humanos.
Um dos problemas atuais é que as pessoas deixam-se conduzir mais pelos sentimentos e pelas emoções do que pela racionalidade, o que é extremamente inquietante. Não é de espantar que vivamos um tempo de grandes desequilíbrios, de excessos, de contradições, de fanatismos e radicalismos, porque se pensa pouco, se pondera pouco. Estamos no tempo da reação imediata, emotiva, irrefletida, pouco ponderada, insultuosa, em que se ferve rapidamente por tudo e por nada, extremando-se repentinamente posições e perdendo-se a capacidade de ouvir, de pensar com serenidade e de se questionar o que se pensa e o que se vive. É esta cultura que invadiu as redes sociais e a discussão pública, com muito pouca consistência intelectual, com a agravante de que levou ao aparecimento de grupos instantâneos e de seitas bem-pensantes, consumidoras das ideias da moda, que se acham detentoras da verdade e com o direito de a impor na vida social, não sabendo conviver com o contraditório.
O escritor portuense, Mário Cláudio, dizia há dias numa entrevista que “a minha obra é vasta porque tenho medo de sair de casa”. De facto, começa-se a ter algum medo de partilhar ideias e convicções, e de se frequentar alguns ambientes, porque podemos ser facilmente a próxima vítima das matilhas destravadas e intolerantes, que por aí andam, prontas a crucificar o próximo atrevido que ouse questionar as frases feitas e as dogmáticas ideias progressistas deste tempo admirável.