Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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Hoje, é preciso coragem para ser Cristão

Na recta final da sua caminhada enquanto Bispo, D. Joaquim Gonçalves falou, ao Nosso Jornal, sobre as conquistas e os desafios que venceu e sobre os reptos que serão lançados ao seu sucessor. Recordando a vitória ao nível da “educação litúrgica”, ou o “desgosto” na desistência de 8 dos 38 padres que ordenou em 19 anos, o actual Bispo assume a lacuna de não ter conseguido instalar em Vila Real um Convento de Religiosas e adverte o próximo Bispo sobre a necessidade de trabalhar a relação Igreja/Mundo.

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No dia 10, D. Joaquim Gonçalves completou 50 anos do sacerdócio, 29 dos quais à frente da Diocese de Vila Real. Dentro de, sensivelmente, um ano vai deixar o Governo da Diocese para “passar a batuta” a D. Amândio Tomás e assumir o estatuto de Bispo Emérito.

“Ao completar 75 anos pedimos ao Santo Padre que nos dispense. Está assim estabelecido. Normalmente há alguns meses para arranjar outro Bispo. No meu caso não”, explicou D. Joaquim Gonçalves, recordando que, na altura em que fez o transplante de coração, como “não sabia se ia morrer”, pediu que fosse nomeado o seu sucessor, tendo sido então ordenado como Bispo Coadjutor de Vila Real D. Amândio Tomás.

Entre os momentos que sublinha do seu percurso na diocese, o Bispo recorda um conjunto de obras, nomeadamente “a reconstrução interior do Seminário”, que permitiu a construção da Casa Diocesana e do auditório, de uma capela interior e a remodelação dos quartos dos estudantes, que ficaram assim dotados de lavatórios e chuveiros.

A construção da Casa do Clero, no Carmo, onde actualmente funciona também o serviço da Cúria Diocesana e do tribunal, e o arquivo (que ainda está a ser desenvolvido), sendo outro dos investimentos do qual o actual Bispo se orgulha. “Uma outra obra que acabei, e que vai ser inaugurada no dia 16, é a Capela do Carmo, que faz parte desta casa e que foi toda remodelada. Telhado, tectos, paredes e as cerca de 40 sepulturas interiores”, explicou D. Joaquim, referindo ainda que as imagens foram todas retocadas e foi mesmo adquirida uma de S. José.

Outro “grande salto” dado nos últimos anos na diocese de Vila Real prende-se com a reforma das igrejas, dos altares, dos espaços sagrados e mesmo dos adros e santuários, com o Bispo a mostrar orgulho, por exemplo, no facto de se poder entrar hoje em “qualquer igreja do concelho” e notar a intervenção feita.

“Em termos pastorais”, o mesmo responsável religioso assumiu como “a parte de leão”, a educação litúrgica, ou seja, o trabalho de “dar rigor de doutrina e de dignidade às celebrações oficiais da Igreja”, às eucaristias de Domingos, aos sacramentos, procissões, cantos e ministérios, a tudo que se relaciona com os chamados actos religiosos e que “têm um certo estilo, uma regra para serem celebrados e fora dos quais se banalizam e perdem encanto”, denunciando assim “uma quebra de piedade”.

Mas, nem tudo foi feito. D. Joaquim Gonçalves adverte o seu sucessor sobre uma importante aposta que terá pela frente, o trabalho na relação Igreja/Mundo. Essa dualidade “foi sempre o calcanhar de Aquiles” e mantém-se hoje como “um desafio muito grande”, defendeu.

“Os valores que um Cristão pratica não têm, frequentemente, um suporte na Sociedade Civil”, por isso este tem que “se manter firme num Mundo que não tem firmeza, tem que se manter disciplinado num Mundo que não tem disciplina, tem que se manter de pé num Mundo que rasteja”.

Referindo que actualmente a sociedade não tem regras, aceitando–se mesmo, em certos meandros, “como normal o suborno activo e passivo”, o Bispo acredita que o Cristão, “ou tem a coragem de ser Cristão, e é um mártir, porque vai sofrer as consequências, ou cede e não perde a fé mas o aprumo Cristão”.

“Essa coragem, em termos do Evangelho, é o Sal. O importante é não perder a força de Sal, mesmo que isso custe algumas lágrimas. Se eu perder a força de Sal então perco eu e perde a sociedade, fica tudo insosso. Este é que é o objectivo futuro, a formação dos leigos para a nova geração”, defendeu.

D. Joaquim Gonçalves referiu ainda dois “desgostos” no seu percurso enquanto governante da diocese vila-realense, classificando mesmo um deles como a “Coroa de Espinhos”. “Nos últimos 19 anos ordenei 38 padres, ou seja, dois por ano, o que é muito bom. O que é alarmante, e me obriga a uma grande reflexão, é como é que 8 não se mantiveram”, lembra o bispo, justificando o elevado número com uma combinação “muito complexa entre uma deficiente selecção e uma grande pressão da cultura actual sobre os sacerdotes”.

Por outro lado, o mesmo responsável religioso lembra outra lacuna que tentou colmatar mas que terá de ser solucionada pelos responsáveis vindouros, nomeadamente a criação, na diocese, de um Convento de Freiras em regime de reclusão. Essa comunidade garantiria uma “dimensão escatológica”, sem a qual “a igreja corre o perigo de se instalar, de ser uma seara sempre verde, esquecida da maturidade da sementeira. Uma igreja a marcar passo. Parada”.

“Pesaroso” pelo insucesso das suas tentativas, D. Joaquim Gonçalves acredita, no entanto, que essa comunidade, contemplativa, um dia será uma realidade na diocese, uma das únicas do país que não tem um convento.

Antes do final do seu percurso religioso enquanto Bispo, o ainda líder da Diocese quer ver implementado o Dia da Família, isso depois de ter instituído, ao longo dos anos, outras celebrações anuais como seja o Dia da Fraternidade Sacerdotal, em Dezembro, o Dia da Diocese, no primeiro Domingo de Junho, o Dia das Ordenações, no primeiro Domingo de Julho e o Dia da Juventude, a 25 de Abril. Valorizando ainda a missa Crismal da Quinta-feira Santa.

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