Continuei a minha formação académica no Seminário de Vinhais durante dois anos, seguindo-se mais dois no Seminário de Bragança.
Tive o privilégio de fazer a ensino primário numa escola com condições ótimas nesse tempo. Tinha um muro à volta, seis ou sete amoreiras, casas de banho, recreio para os dias de chuva. Foi feita, há mais de 100 anos, por uma professora natural de Lagoa, Macedo de Cavaleiros, que vivia em Brunhoso e que pertencia à minha família.
Falar sobre o Seminário de Vinhais é um enorme prazer para mim, pois foi lá que comecei a minha vida de estudante do secundário. Foi no longínquo ano de 1961 que ali dei entrada, depois de uma viagem muito atribulada feita em três etapas: de Remondes a Lagoa, a cavalo, dali a Bragança de carreira. Em Bragança, concentrámo-nos todos os que íamos estudar para Vinhais. Seguimos em viagem organizada pelo Seminário.
Recordo esse dia como se fosse hoje. Tinha pouco mais de 10 anos e era a primeira vez que iria estar ausente de todos os que me eram queridos, os meus pais e os meus irmãos. Esse dia foi o primeiro de muitos outros que muito me custaram a passar, pois só no Natal é que os iria ver de novo. Como muitos outros colegas, derramei muitas lágrimas escondido de tudo e de todos. Só quem passou por este tipo de provação é que pode avaliar o que ia na alma de cada um dos que ali estávamos a iniciar aquilo que seria o nosso futuro. Recordo, até com saudade, muitos daqueles que foram os meus primeiros colegas de estudo.
A vida no seminário era muito difícil, devido, em especial, às regras de conduta impostas ao funcionamento diário da instituição. No entanto, para mim, isso nunca foi problema. Devo até dizer que os dois anos que ali passei, mais os dois que passei em Bragança, permitiram-me adquirir regras de comportamento e de atitude perante a vida que me foram muito úteis enquanto decorreram os meus estudos e na minha vida profissional. Ali, aprendi a administrar o tempo, distribuindo-o de modo a cumprir com todas as minhas obrigações. Ainda hoje penso que, para mim, foi um período determinante para a construção da vida que hoje tenho. No final do meu quarto ano, depois de muito refletir, tive uma conversa muito séria com a minha mãe, a quem transmiti a minha decisão de não continuar no Seminário e sair a fim de dar outro rumo à minha vida. Para ela foi uma deceção muito grande, mas ela tinha uma maneira muito especial de lidar com os filhos. Depois de todos os argumentos, fui convincente o suficiente para ela aceitar a minha decisão. Para ela foi uma enorme deceção. Esta decisão foi em toda a nossa vida em comum com ela, a mais difícil de ser aceite por ela. Dali para diante, fiz tudo para nunca mais a dececionar. E consegui! Acompanhei-a até à sua morte. Quando estávamos por cá, visitava-a de manhã e de tarde, quer fosse na sua casa, em Remondes, quer fosse na casa de algum filho. Em toda a minha vida, tenho sempre presente o que me ensinou.