Terça-feira, 25 de Março de 2025
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“Justificámos em pleno a nossa subida”

Quem o afirma é Vítor Campelos, treinador do Grupo Desportivo de Chaves. De olhos postos na próxima época, quer “representar, de forma muito digna”, a cidade de Chaves e a região de Trás-os-Montes na I Liga, começando por conseguir “os pontos necessários para garantirmos a manutenção”

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VTM – A época ficou marcada por dois períodos menos positivos. Logo no arranque, a Covid-19 originou “baixas” inesperadas e “obrigou”, inclusive, a recorrer a juniores. Como é que se dá a volta a isto?

Vítor Campelos – É verdade que houve períodos difíceis, sobretudo no início da época, por causa da Covid-19 e porque alguns jogadores foram chegando mais tarde. O segredo foi ter muita resiliência. Na equipa técnica sentimos que os jogadores acreditavam no trabalho que estava a ser feito. O nosso lema sempre foi “todos juntos somos mais fortes”. Sempre o disse ao longo da época. Foram momentos difíceis porque tivemos de jogar com jogadores que estavam a regressar da quarentena e tinham feito, apenas, um treino. Eu próprio tive mais de uma semana a dar treino sozinho porque os meus adjuntos estavam todos em casa, com Covid-19. Foi uma tarefa algo atribulada, nessa altura. Uma palavra de agradecimento ao Steven, treinador dos juniores, pela importância que estes jogadores tiveram nessa altura.

Como chegou a afirmar a segunda volta é, habitualmente, mais forte e, esta época, não foi exceção. O que é que mudou?

Quando falo da minha equipa técnica digo que, geralmente, as nossas segundas voltas são mais fortes porque o processo está já numa fase de maior assimilação por parte dos jogadores, está mais consolidado e as nossas ideias estão mais vincadas. Há automatismos que se vão criando durante toda a época e, como é óbvio, nessa altura, na segunda parte do campeonato, estão muito mais assimilados. Os jogadores já se conhecem melhor uns aos outros, já conhecem o nosso modelo e ideia de jogo. Por isso, as nossas segundas voltas costumam ser mais fortes que as primeiras.

“Os jogadores fizeram uma época fantástica, com muitos altos e baixos”

O facto de terem tido oito jogos em 33 dias veio abanar as contas. As partidas frente ao FC Porto B, Benfica B e FC Penafiel foram o reflexo desse desgaste?

Nesses jogos, houve alguns jogadores que acusaram algum desgaste, nitidamente. Como disse, fizemos oito jogos em 33 dias. Além do desgaste físico e do sistema nervoso periférico, muito importante é também o desgaste emocional, a concentração e a fadiga mental do sistema nervoso central. Nessa altura, como tínhamos jogos em atraso, tínhamos de estar sempre a jogar “no fio da navalha”. Não podíamos ficar para trás. Qualquer resultado menos positivo ia afastar-nos dos lugares cimeiros. Por isso, para além do desgaste físico, como disse, foi um desgaste emocional muito grande. Tínhamos de estar sempre focados em entrar nos jogos para ganhar. Nesses jogos, por muito que se fizesse tudo bem feito, incluindo na recuperação dos jogadores, foi um acumular de jogos e a fadiga fez-se sentir.

Estavam, então, na jornada 25. Qual foi o ingrediente-chave para motivar a equipa para uma reta final decisiva?

Os jogadores sempre acreditaram que era possível chegarmos aos lugares do topo. Foi um objetivo que fomos criando jogo a jogo. Desde o início que o nosso lema sempre foi encarar cada jogo como o mais importante da época, porque era o próximo. A nove jornadas do fim, sabíamos que tínhamos de fazer uma reta final fantástica, mas também sabíamos que os últimos jogos da primeira volta tinham corrido muito bem. Tínhamos um calendário difícil, mas também dependíamos de nós para chegar perto e estarmos bem posicionados nos últimos jogos do campeonato. Creio que a força do coletivo, em conjunto com o nosso diretor desportivo, Paulo Cabral, foi importante para mantermos o grupo unido. Uma palavra para o nosso departamento médico que foi muito importante nessa fase. Fomos uma verdadeira família, no verdadeiro sentido da palavra.

Afirmou, na altura, que a equipa não pode entrar em campo de ‘smoking’ mas, sim, de fato-macaco. Essa postura foi determinante depois de “cair por terra” a hipótese de uma subida direta?

Quando fizemos séries de cinco jogos seguidos sempre a vencer, poderia haver, por vezes, algum deslumbramento. Quando disse isso, era para que os jogadores percebessem que temos de manter sempre o mesmo foco, que temos de ter uma equipa organizada, humilde e trabalhadora. Foi este o nosso apanágio durante toda a época. Sempre disse que tínhamos de ser a extensão dos nossos adeptos dentro do campo e é essa imagem que eu tenho dos valentes transmontanos. Relativamente ao ‘play-off’, foi feito um trabalho mental muito importante, até porque caímos para essa fase na última jornada, ao passo que o Moreirense chegou ao ‘play-off’ em virtude da vitória em Vizela. No primeiro treino da semana sentimos que os jogadores tinham batido no fundo porque acreditavam muito numa subida direta e isso não aconteceu. Tivemos de trabalhar para que acreditassem que a subida ainda era possível no ‘play-off’. Acabámos por chegar à última jornada a poder subir diretamente, o que, para muita gente, em novembro, era impossível. Queríamos muito agarrar-nos a essa ideia, de que ainda era possível, e fizemos dois jogos de muita qualidade. Fomos superiores ao nosso adversário. Justificámos, em pleno, a nossa subida de divisão.

“O objetivo é formar uma equipa que nos garanta um campeonato tranquilo”

Quando, a 29 de maio, em Moreira de Cónegos, ouve o apito final da partida, o que é que sentiu?

Senti uma alegria enorme. Os jogadores fizeram uma época fantástica, com muitos altos e baixos. Tentei fazer-lhes ver que, no futebol, podemos fazer o “transfer” para a vida e que haverá sempre problemas. O que fará realmente a diferença será a forma como os encaramos. Fomos encarando os nossos problemas de forma positiva, olhos nos olhos, com pensamento positivo, que é algo que incutimos desde o primeiro dia em todo o pessoal que trabalha perto de nós, do roupeiro à lavandaria. Portanto, nesse dia, foi um sentimento de alegria enorme por todos os flavienses, por todos os transmontanos. Quando se estava a aproximar o final da época, senti uma enorme responsabilidade porque sei quais são as repercussões positivas desta subida para a cidade e para a região, não só em termos de hotelaria, restauração e comércio, mas, também, porque tem um impacto muito grande na vida das pessoas.

De renovação confirmada, qual é o seu principal objetivo para a próxima época?

Formar um plantel que nos dê garantias para podermos representar de forma muito digna todos os transmontanos e flavienses. Sabemos que quando se joga melhor está-se mais perto de ganhar e também sabemos que quando jogamos melhor estamos mais perto de potenciar jogadores. Acabou por acontecer isso e, já em dezembro, o Chaves podia ter vendido muitos jogadores. Neste final de época, alguns vão sair para equipas de patamares superiores e outros estão a ser bastante cobiçados. Portanto, o objetivo é formar uma equipa que nos garanta um campeonato tranquilo, de modo a fazermos, o mais rapidamente possível, os pontos necessários para garantirmos a manutenção e, depois, mais para a frente, vamos ver aquilo que poderá acontecer.

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