Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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Paulo Reis Mourão
Paulo Reis Mourão
Economista e Professor Universitário na Universidade do Minho. Colunista n'A Voz de Trás-os-Montes

Lições de Tóquio

Tive ocasião de participar no 16th International Conference of Eco­nomics and Social Sciences. Esta Conferência Internacional decorreu nesta edição em Tóquio entre os dias 9 e 10 de março.

Para lá da riqueza e complexidade das abordagens das diversas sessões que decorreram onde também fui Chair, trouxe impressões muito positivas desta visita ao Japão. Desde a ligação histórica que os Portugueses (nomeadamente alguns transmontanos) tiveram com o ‘shogunato’ imperial no século XVI, até à dimensão metropolitana das capitais japonesas, outras questões merecem uma reflexão neste espaço.

Uma delas diz respeito à capacidade de gerir e multiplicar o Capital no tempo presente. Antes diríamos que alguém com muito dinheiro seria rico. Portanto, alguém com grandes reservas acumuladas de esforço próprio ou contribuído por terceiros – recordo que Capital significa Reserva de Valores – seria, pois, rico. O conceito – quer de Capital e portanto de Riqueza – hoje é diferente. Não guardamos só cofres e haveres, ou bens e matéria. Guardamos também Valores como Simpatia, Relacionamento Social ou Influência Política. Logo, conceitos mais latos de Capital -e de Riqueza – se têm imposto. E hoje podemos falar de Capital Social, Capital Emocional ou Capital Político como necessários a Riqueza de cada um e de cada Espaço. Nomeadamente, como Adam Smith reconhecia, necessários à Riqueza das Nações.

Nesta sequência, perguntamos porque alguns Espaços têm mais Riqueza do que outros e porque certas Regiões têm mais capacidade de valorizar o Capital do que outros.
Entre os fatores que o Japão – apesar dos seus períodos de bipolaridade de abertura ao Exterior, dos ciclos de crescimento desequilibrado, da pressão urbana, da expansão chinesa e da tensão com os blocos comunistas teve foram em comum os seguintes quatro.

Em primeiro lugar, a facilidade de acolher o investimento estrangeiro. Portanto, interessa não só receber o Turista, mas transformá-lo em Investidor, como tenho defendido para as nossas Regiões Esquecidas.

Em segundo lugar, a facilidade para jogar, para arriscar, para empreender. Poderíamos colar aqui a propensão – quase teológica – para a aposta que os Orientais têm. Mas mais importante do que apostar será saber apostar. Mais importante do que empreender é saber empreender, com financiamento capaz de aguentar os ciclos de instalação e expansão, com técnicos e profissionais motivados para ‘long shots’ e com vontade de valorização em permanência.

Em terceiro lugar, a rede de comunicações e de transporte que, combinando operadores públicos e privados, faz com que – independentemente de nos deslocarmos em automóvel, em autocarro ou em metro, o tempo e o custo são próximos.

Por último, a estreita ligação entre as sedes de Conhecimento e o Mundo Empresarial. Utilizando o exemplo comum, pessoas saudáveis são geralmente resultado de uma vigilância permanente da sua saúde; também empresas saudáveis são em permanência o resultado de uma auscultação constante feita pela análise de bons centros do conhecimento.
Nem todos serão no Japão Samurais. Alguns serão Ninjas. E outros ‘dolly girls’ e ‘manga boys’. Mas em média, com o PIB per capita um dos mais altos do planeta, poderão viver com mais rendimentos do que a maioria dos nossos vizinhos. E quando falamos de rendimento falamos de um fluxo monetário mais estável – portanto, resultante de decisões menos aleatórias – do que uma aposta no casino. Em conclusão, quando é para trabalhar, não andam a brincar – quer sejam empresários, quer sejam colaboradores. Coisas do Japão, portanto!

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