Sempre foi assim até que a internet se vulgarizou. Melhor. Alguém, no Terreiro do Paço – sempre o Terreiro do Paço – se convenceu que havia computadores espalhados por todos os cantos do Douro. Mais ainda, que todos os lavradores que passam o ano à volta das videiras eram peritos em consultar os sites disto e daquilo. E agora, o cartão do benefício já não chega pelo correio. Tira-se do site do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. “Faz-se um print nos engenheiros, na associação, na cooperativa e dão-nos o papel”.
Este ano, vai por aí um desencanto!… Por aí e por aqui. O benefício, a autorização para beneficiar mosto com aguardente vínica que depois será denominado Vinho do Porto, deu mais um trambolhão. Mais um corte de 8 000 pipas. A somar às 2 000 do ano passado. A este ritmo, em dois, três anos, atinge-se o quantitativo de 2011, as 85 000, de má memória.
Compreende-se que o quantitativo de benefício seja regulado, estabelecido através de uma parceria entre a produção e o comércio. Reconhece-se que não pode subir todos os anos. O mercado também oscila. O consumo depende de muitos fatores. Procurei no Comunicado de Vindimas as razões de tão acentuada diminuição. Não encontrei. Por tal facto, terei que me ater ao que fui lendo em declarações dos membros do Conselho Interprofissional. Aqui e ali. Desde logo em A Voz de Trás-os-Montes da passada semana. A “redução reflete a constante quebra de vendas do vinho do Porto”; há a preocupação com o “Brexit” que poderá afetar “muito” as vendas. São razões dos exportadores. Já se pensa nas consequências de que pode vir a acontecer. Convenhamos, mas este argumento não colhe. Aliás, sabe-se que há no Douro empresas exportadoras que, com antecedência, definiram estratégias para minorar as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia. Quanto aos representantes dos produtores, por estranho que possa parecer, usam argumentos semelhantes – “perda contínua de vendas”. Há dias, alguém com responsabilidades no setor me segredava: «quando a Casa do Douro estava em ação, os lavradores sentiam-se mais amparados». Pois claro. Agora, os culpados são os do costume. É preciso mais investimento público na promoção. Culpa do “Brexit”, também.
Fique claro que partilho a convicção e defendo que as taxas cobradas na região demarcada não são, não podem ser receitas do Estado. Mas a promoção da região e dos seus produtos, nomeadamente, do seu produto de excelência, que é o vinho do Porto, não pode ser uma tarefa exclusiva, nem, sobretudo, do Estado. Veja-se o turismo e o papel que as empresas assumem na promoção do destino. No Douro, desde logo. No Algarve, na Madeira e em Lisboa. E noutros setores. Faça-se promoção. Façamos promoção e não estaremos sujeitos a cortes de benefício tão significativos.