Sugestivo nome deste quinto livro poético em que “o verso fluido e livre nos conduz a uma experiência amorosa vivida nos limites da dádiva e da partilha”, na interpretação feliz de Cláudio Lima, que justifica na contracapa esta partilha e esta dádiva ao acrescentar que a autora “amou dois homens, dois grandes artistas. Em momentos temporais diferentes, mas com a mesma inteira e apaixonada entrega: o poeta e o escritor Fernão de Magalhães Gonçalves e o escultor e pintor José Manuel Espiga Pinto. De ambos foi abnegada companheira, cúmplice, confidente; ambos partiram deixando-lhe o coração despedaçado…”
Neste pequeno-grande livro reúne 21 poemas que o mesmo recensor entende “refletirem essa dupla dolorosa provação”. Eu não diria melhor nem tão bem desta “dádiva e da partilha” por parte de quem muito amou e muito sofreu, entre 1988 e 2014. “Soube sublimar o sofrimento e a saudade através da poesia”.
E conseguiu harmonizar o Amor a três, em outros tantos tempos: o antes, o durante e o Depois.
Um verdadeiro arranjo floral que conjuga o verbo amar, em todos os tempos e modos.
Manuela Morais nasceu em Murça, licenciou-se em Literatura Comparada e fundou e dirige a Tartaruga Editora. Com o intuito de promover a língua e a cultura portuguesas, difundido os autores contemporâneos, instituiu e promove, anualmente, o Prémio Nacional de Poesia “Fernão de Magalhães Gonçalves”.
Pedro Teixeira da Mota, na primeira badana da capa, escreve que “estes poemas belos e profundos de Manuela Morais, testemunham a sua travessia dos píncaros e abismos do amor e da dor, que constituem, em grande medida, a vida humana regida por ciclos e marés e que nos cabe atravessar com amor e estoicismo, simplicidade e criatividade, consciência e esperança. Não foi em vão que a autora partilhou anos de vida com duas almas culturas da beleza e da arte e que no amor souberam realizar epifânias perenes e substanciais e que nos comovem, nos encantam e nos impulsionam a sabermos perseverar na tradição tão portuguesa dos Fiéis do Amor”.
Não menos simbólico é o testemunho da prefaciadora Ana Paula Fortuna que depois de recordar que o amor é o sentimento mais belo que o ser humano pode experimentar. Contudo, nunca é fácil defini-lo. E invoca um soneto de Vasco Graça Moura para concluir que «Depois do Amor, ainda há vida». E cita dois versos sugestivos: «Ao deixar de bater-me o coração// fique por nós o teu inda a bater». Capa simbólica de Espiga Pinto.