Em Vila Grande, sede da freguesia de Dornelas, uma das mais significativas do concelho de Boticas, esperavam-se desacatos e, até mesmo, um boicote às urnas a propósito do polémico assunto da possível exploração mineira a instalar na região. Porém, nada se verificou e o ato eleitoral decorreu com toda a normalidade.
Beatriz Mendes, 26 anos, foi uma das muitas jovens a votar pela manhã. “O direito ao voto é fundamental. É a possibilidade de escolhermos quem será o responsável que nos irá representar, de forma muito próxima”. Embora “a população mais nova seja reduzida, não conheço um único jovem que não saia de casa para votar”.
Sérgio Afonso, 51 anos, ex-emigrante, considera que “todas as eleições são importantes e temos o dever de vir votar. Estamos a decidir quem nos vai governar de forma próxima. Temos que tentar eleger a pessoa mais correta para resolver os nossos problemas”. Um deles é a possível exploração mineira na região. “Vivemos em plena natureza, de forma saudável. Somos Património Agrícola Mundial e queremos minas aqui? É um contrassenso que me preocupa”.
Felisbela Magalhães juntou a família e foi votar logo pela manhã. Confessou gostar de “participar na vida cívica” que a rodeia. Partilha, ainda, da opinião do conterrâneo relativamente à exploração mineira. “Preocupa-me bastante. Inclusivamente tentei contactar a autarquia e não obtive resposta, não falam sobre o assunto. Não sei o que se passa”.
António Barreto, 74 anos, também cumpriu o seu dever, do qual não prescinde. Considera que “votar deveria ser obrigatório”. Quanto à exploração mineira, revela ser a favor. “Se o lítio existe e é tão importante para a economia do país, se faz falta, é uma falsa questão, da qual muitos se aproveitam. Estava convencido, até, que houvesse aqui boicote, mas ainda bem que não houve”.
Magda Barroso, presidente da mesa de voto da secção número um, num balanço do domingo eleitoral, enalteceu a grande afluência às urnas. “Foi gratificante e prazeroso acompanhar este ato eleitoral. Felizmente a abstenção é baixa porque, no fundo, estamos a eleger os autarcas que terão um contacto mais direto com as populações. Os eleitores de Dornelas têm consciência da importância do seu voto e não deixam de o vir exercer. O dever cívico, aqui, foi cumprido”.
Uma “boa parte dos jovens que vieram votar pela primeira vez foram constituídos delegados, estiveram nessa condição, com essa responsabilidade, o que é raro nos dias de hoje”, destacou. “No fundo, aquilo que os mais antigos me incutiram a mim, já está a ser incutido aos mais novos e assim continuará a acontecer, geração após geração. É este o nosso modus operandi, sejamos ou não membros das listas, é o viver em comunidade, para a comunidade”, enalteceu Magda Barroso.
Já na localidade vizinha, em Vila Pequena, o cenário era outro. Na secção de voto número dois, até às 13h, apenas tinham votado 37 pessoas. Maria Sanches, presidente da mesa de voto, destacou que “à hora de almoço, após a missa, esperávamos muita gente, que fosse uma hora de maior aperto, o que não está a acontecer”.
O dia foi, por isso, “muito calmo”. Maria acredita que pode ter sido “uma forma de protesto, contra as minas. Ou seja, em vez do esperado boicote ou de algum tipo de manifestação, decidiram não vir votar.”
A freguesia, com largas centenas de eleitores, como é habitual, contou com duas secções de voto, uma no Centro de Atividades do Couto de Dornelas, e a segunda em Vila Pequena, no Centro Comunitário.