“Só hoje de manhã já tínhamos uma fila de 40 pessoas à espera de apoio alimentar junto das nossas instalações”, relatou Belmiro Vilela que, apesar de falar neste caso em específico sobre a Santa Casa da Misericórdia de Murça, enquanto presidente do Secretariado Regional da União das Misericórdias Portugueses, é também a voz das “sérias dificuldades” vividas pelas várias delegações no distrito daquela instituição centenária.
O mesmo responsável vê “com preocupação a sustentabilidade das Misericórdias, principalmente daquelas que não têm outros rendimentos senão os acordos de cooperação com a Segurança Social”. “Por exemplo, em Murça, apesar do aumento salarial não ter sido elevado, já temos despesas mensais de 10 mil euros só para suportar os nossos funcionários, e não houve qualquer aumento dos apoios do Estado”, contabilizou.
A situação agrava-se tendo em conta o aumento, superior a 10 por cento no último ano, dos pedidos de ajuda das populações, ainda mais numa altura em que a sociedade “já está tão sobrecarregada” em termos de gastos com as suas famílias, que “já não existe o espírito de solidariedade financeira” para com as instituições.
Apesar de se mostrar convencido que, à semelhança de outras graves crises que as Misericórdias conseguiram ultrapassar, com esforço e força de vontade dos seus membros e pessoal voluntariado, Belmiro Vilela acredita que a situação da crise vivida em Portugal, e sentida sobretudo pelos mais carenciados, “não se vai resolver em dois anos”, pelo contrário, “vai agravar-se.
Sempre com pensamento positivo, o presidente do secretariado regional apela ao esforço colectivo e de entreajuda das comunidades e à boa vontade de todos, porque só assim será possível superar este “momento difícil” na vida das populações do distrito.
De recordar que para 2011, e segundo o Orçamento de Estado ainda em discussão, os portugueses poderão ter que contar com o aumento de produtos considerados como essenciais.
Apesar do Partido Socialista já ter mostrado alguma abertura para rever a sua posição relativamente ao aumento do IVA em alguns alimentos, a proposta inicial do Governo implicará não só a subida de dois pontos percentuais no valor daquele imposto para os produtos que já estão actualmente na taxa máxima (21 por cento), mas também a alteração de 6 e 13 por cento para os 23 por cento em muitos alimentos, o que, a acontecer, poderá se reflectir em alguns considerados básicos.
Se os lactícinios enriquecidos (leites achocolatados, aromatizados ou vitaminados) já são considerados como uma vitória para a oposição, prevendo-se assim a manutenção das taxas actuais, os planos do Governo prevêm ainda o aumento do preço de outros alimentos. Os enlatados, como latas de salsicha, polvo enlatado ou latas de feijão, poderão ser penalizados já que, em vez de contar uma taxa intermédia de IVA, que corresponde a 13 por cento, com as possíveis alterações ao imposto sobre o consumo, passarão a pagar 23 por cento.
O fim do apoio ao abate dos veículos em fim de vida ou o aumento de mais de cinco por cento no Imposto Automóvel, o acréscimo de 2,2 por cento no preço do tabaco e o disparar do valor das coimas, entre muitas outras medidas, fazem parte da promessa do Governo de tratar da saúde à economia do país e representam o cinto cada vez mais apertado para os portugueses.