“A ideia central foi representar o milagre porque era aquilo que as pessoas pediam, mas depois pensou-se em fazer uma catequese de Nossa Senhora, em sintonia com o seu filho, Jesus Cristo, neste caso ‘Os sete mistérios de Jesus e de Maria’, desde o nascimento à crucifixão, passando pela assunção e ascensão do Senhor”, explica o pároco de Alfaião.
Segundo o padre António Estevinho Pires, o milagre da Veiga diz respeito a um lavrador que, ali perto, estava a lavrar. Os seus animais iam cair num “despenhadeiro e o senhor fez uma prece a Nossa Senhora e susteve as vacas”.
“É o milagre que hoje o povo tem muita tradição e quis também que ficasse inscrito no painel central destes murais”, indicou, salientando que num documento do século XVII também consta a história de um sapateiro da localidade que “foi levado pela inquisição, julgado e preso, porque disse que teve visões de Nossa Senhora”.
Os murais no santuário mariano foram feitos com “técnicas bastante antigas”, nomeadamente o esgrafitado e a pintura a fresco, pela artista Tânia Pires. A técnica natural do fresco, usada nesta “pregação” que representa o milagre da Senhora da Veiga e “Nossa Senhora na vida de seu filho Jesus Cristo”, não era usada em Trás-os-Montes há mais de 500 anos.
Em declarações à Agência Ecclesia, a iconógrafa Tânia Pires adianta que o esgrafitado “tem a mesma base da pintura a fresco, que é a base de cal e areia e pigmentos”, através de uma técnica que é “duradoura mesmo a nível de cor”.
A artista que já conhecia a zona rural do Santuário da Senhora da Veiga, em Alfaião, destaca que é “um lugar muito bonito e pacífico”, perto do rio Penacal, e destaca que “é bonito relacionar técnicas tradicionais onde existe ainda alguma tradição”, por isso, faz muito sentido nas aldeias usarem técnicas tradicionais e manter a parte mais ecológica e natural.
“Esta técnica foi pensada porque não se trata de uma estrutura habitual dentro de uma capela, mas no exterior. Aquilo que se percebe é que oferece mais resistência e mais durabilidade. A técnica mural a fresco é muito melhor do que qualquer outra para este tipo de edificação”, destacou o padre António Estevinho Pires.