Depois da ceia da consoada, as lareiras ficavam ornamentadas com saquitos de reles tecido em que neles havia pinhões, amêndoas e confeitos que haviam de oferecer encantamento nas crianças.
E no frio agreste, as famílias juntavam-se à lareira, felizes no convívio, onde as prendas eram o testemunho do espírito solidário entre todos. O Natal era tempo de partilha e de música como canto de esperança e união dos povos.
Em todas as terras se cantavam hossanas em louvor a Jesus. Os pobres eram lembrados na sua singeleza e para eles os sorrisos e as promessas eram sinais de esperança que tocavam os corações como Sol que iluminado beija a terra.
Na noite do dia 24 as lareiras cresciam e as chamas crepitavam alto na emoção dos olhares e na força sublime da fé.
Antigamente, tudo era diferente: os ricos tinham festas de Natal… bolos e guloseimas. Os pobres aninhavam-se em casebres reconfortados na sua fé e resignação, por vezes sentados nos degraus da Igreja à porta das casas, olhavam para cima à procura da misericórdia de Deus omnipresente.
Na quadra de Natal havia palavras bonitas vindas do coração das pessoas. Nasciam silêncios de ouro no respeito pelo próximo. Havia solidariedade que unia os corações.
Diziam que se devia ajudar os pobrezinhos e neste espírito embainhavam-se fraldas para os meninos carentes feitas pelas meninas que tricotavam bolinhas de lã e camisolinhas. Não tinham sapatos mas tinham pobres chapéus que tiravam respeitosamente da cabeça quando passavam pelo rico ou pelo bonacheirão sacerdote.
Andavam de olhos baixos, marcados pela dor… mas os pobres sentiam dentro o fervilhar de Jesus, a Sua voz, e o sentido da vida no conforto da alma.
Noutros tempos havia espírito de Natal porque se ouvia música da quadra e até música clássica. Schubert, Mozart e Beethoven eram os preferidos. Essa música funcionava como bálsamo de união e confraternização. No entanto são muitas as lembranças de um passado pontuado por belíssimas descrições da natureza humana na época natalícia em que a família era o elo mais forte, a aliança perfeita de uma vida feliz.
O cenário das casas era rustico, protegido pelo conforto da lareira, pelas melodias do vento, canções de Natal e pela presença do avô mascando um velho cigarro.
O frio que fica depois dos enterros demora a desaparecer, mas o frio de Natal parece feito de um brilho que conduz como estrela em que acreditamos ser a mensageira da luz que a todos nos aquece.
O Natal é ainda hoje celebrado em todo o mundo, porque Jesus mudou, pelo seu exemplo de vida- vida ceifada e sofrida- o comportamento da humanidade que procura no Nascimento do Menino a última esperança da salvação.